No final de setembro de 2009, após mais de 2 semanas sem que houvesse uma mancha sequer sobre o Sol, uma nova mancha foi detectada pelo satélite SOHO, que monitora a atividade solar. Isso é agradável do ponto de vista de observação astronômica, já que as manchas estão entre os poucos eventos que podem ser observados no Sol, além dos eclipses, trânsitos de Vênus, Mercúrio e alguns asteróides, e protuberâncias, que são mais raras. Essas manchas proporcionam pequenos espetáculos visuais de formas e cores, além de mudar rapidamente de forma e tamanho em questão e poucos dias ou mesmo horas, e também permitem acompanhar o movimento de rotação do Sol, já que se pode notar mudanças na posição de um dia para o outro. Porém, do ponto de vista de usuário de meios magnéticos de armazenamento de informações preciosas, o aumento da atividade solar não é boa notícia.
Um problema que me preocupa um pouco é que a atividade magnética do Sol pode produzir algum desastre como o ocorrido em 1859, que só não foi mais dramático porque na época só havia telégrafos, mas atualmente seria uma calamidade. A maioria dos heliologistas estima que estejamos próximos a um período de mínima atividade, porém logo após um mínimo pode ocorrer um aumento súbito em questão de 2 ou 3 anos. O próximo máximo previsto é para 2013 ou 2014, e nesse período haverá um risco aumentado de tempestades magnéticas que podem chegar à Terra.
O que tenho em mente, por enquanto, é salvar os conteúdos em mídias óticas, já que as magnéticas podem perder toda a informação. Paredes espessas de chumbo e bário também podem ajudar a evitar que os equipamentos sejam atingidos muito severamente. Ter servidores em dois pontos opostos do planeta e ambos próximos ao equador também ajuda, já que se um for atingido, o outro ainda estará em segurança por cerca de 12 horas ou mais, havendo tempo suficiente para algumas providências urgentes, e ambos próximos ao equador (Indonésia, Sul do Japão, Norte da Austrália, e no extremo oposto na região inter-tropical do Brasil) garante uma camada mais espessa de geomagnetosfera protetora. Se a mancha solar não for grande o bastante para permanecer no eixo Sol—Terra durante mais de 12 horas, ou se não houver várias manchas alinhadas no equador, um dos servidores nem sequer chegará a ser atingido.
Deixar parte do patrimônio cristalizado em bens fora do banco, no caso de informações bancárias se perderem e não serem reconstituídas corretamente, também é uma medida recomendável como último recurso no caso de tempestades catastróficas. Acho muito improvável que um evento solar como este aconteça nos próximos 2 anos, inclusive porque em 2008 e 2009 estamos passando por um período de mínima atividade e o próximo máximo deve ter início por volta de 2012 com pico em 2013 ou 2014, mas acho fundamental estar bem preparado para quando ocorrer.
Desde 2006 foram guardadas versões impressas em papel do código do Saturno V, para a hipótese de uma desmagnetização em larga escala. Além disso, uma versão em CD é atualizada periodicamente e um HD com os códigos é guardado numa caixa adequada. Há empresas especializadas em produzir caixas, cofres, maletas e outros produtos revestidos com malhas metálicas que as torna gaiolas de Faraday, como a Mission Darkness ou Silent Pocket, entretanto esses produtos geralmente são planejados para chaves de carro e celulares serem protegidos contra clonagem, portanto operam num comprimento de onda e condições gerais diferentes do que se observa numa tempestade magnética solar, por isso não ajudam a proteger o dispositivo nesse caso, porque o comprimento de onda dos raios X, raios gama, feixes de prótons, elétrons e íons são muito menores do que os orifícios do gradeado das gaiolas, são inclusive menores do que átomos, por isso atravessam facilmente uma gaiola de Faraday convencional. Entretanto, há maneiras de bloquear radiação ionizante. Por isso, além de colocar o HD numa caixa industrializada, realizamos modificações artesanais adequadas para maximizar a proteção.
Na imagem abaixo, podemos ver uma pessoa dentro de uma gaiola de Faraday, protegida contra uma descarga elétrica de 400.000 Volts.
Em nossa história pregressa temos apenas um registro, porque a atividade magnética do Sol só começou a ser investigada em 1610, e de lá para cá só ocorreram 5 ciclos longos de 80 anos e 35 ciclos de 11,2 anos, entre os quais houve apenas uma ocasião de surgimento de grande mancha em baixa latitude solar que se manteve enquanto o eixo Sol—Terra cruzou a mancha. Mas é provável que em diversas outras ocasiões, desde a Antigüidade, tenham ocorrido eventos como esse sem serem notados, porque as civilizações antigas não dispunham de equipamentos para observar manchas solares nem utilizavam tecnologias eletromagnéticas em larga escala, exceto bússolas.
Isso sugere uma probabilidade empírica perto de 3% durante um período de máxima atividade. Tempestades magnéticas menores, como a que causou um blackout no Canadá em março de 1989, são mais freqüentes, mas menos devastadoras. Uma maneira de calcular teoricamente essas probabilidades é com base na fração da superfície solar coberta por manchas por unidade de tempo e a função de distribuição de manchas em função da latitude. Isso deve fornecer a probabilidade de uma mancha cuja área seja acima de determinado tamanho permaneça durante determinado tempo no eixo Sol—Terra. Em sites como SOHO, NOAA, Space Weather Live e NASA não há dados sobre isso disponíveis com esse nível de detalhes, mas no site da SOHO se pode baixar o histórico diário desde 2006 da atividade solar, e em outras fontes se consegue desde 1610, e com base nisso já se pode ter uma estimativa preliminar.
Numa análise rápida, estimo que a probabilidade de um desastre grave seja perto de 0,1% a cada ciclo de 11 anos e 1% de um blackout “médio” a cada 11 anos, sendo essa probabilidade concentrada no período de máxima atividade.
A surpresa com o evento da FXCM leva a considerar e se precaver contra ocorrências insólitas, entre as quais essas tempestades magnéticas. Situações que podem não ter ocorrido nenhuma vez, ou não tenham sido registradas nenhuma vez, mas cuja probabilidade estimada de ocorrência seja razoável, precisam ser consideradas, para que não se tenha surpresas desagradáveis e até mesmo trágicas.
Como o comportamento solar é razoavelmente previsível, seguindo ciclos suficientemente regulares, podemos planejar as ações conforme a necessidade se fizer presente.
Até 2011 é muito improvável qualquer evento dessa natureza. Em 2012 as preocupações podem começar. Como as manchas grandes podem ser facilmente observadas mesmo com instrumentos de pequeno porte, e o período de rotação solar é cerca de 25 dias no equador, o eventual surgimento de uma mancha próxima ao equador solar poderia ser detectado com 13 dias de antecedência e nos daria um prazo razoável para agir. Mas também é possível que a mancha surja justamente quando já estiver na posição do eixo Sol—Terra e nesse caso teríamos apenas algumas horas entre a chegada da imagem (à velocidade da luz) e a chegada do vento solar (a cerca de 500 km/s, podendo ser até 5 vezes mais rápido, sobretudo nas explosões mais intensas).
Update 2024: a situação em 2024 e 2025 não é muito diferente do que foi no ciclo anterior. O gráfico abaixo mostra o histórico de atividade solar mensal de 1749 a 2024:
Nos períodos de mínima atividade, o número de manchas pode chegar a 0, enquanto nos períodos de máxima atividade pode ultrapassar 400 por mês. Com o aumento no número de manchas, cresce o número de erupções e consequentemente cresce a probabilidade de que alguma delas seja suficientemente grande e suficientemente bem alinhada com nossa posição.
A foto abaixo mostra uma foto que tirei em 2021 de uma mancha solar:
Essa outra imagem mostra uma foto que tirei em 2020, com o tamanho da mancha comparado ao tamanho da Terra em escala:
Também é fortemente recomendável assistir ao vídeo no qual analiso esse tema: https://youtu.be/5fWOv6c5yas
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