Quando as bolsas entram em declínio, há alguns grupos de empresas e pessoas que ganham mais que o normal, enquanto a maioria perde mais que o normal. Neste artigo será feita uma breve análise dessa situação.
No dia 9/3/2020, a Bovespa acionou o circuit break, para tentar conter as quedas. Quando isso acontece, geralmente é sinal de que o Mercado está afundando. Pode ser que não, pode ser que volte a subir em breve, mas as probabilidades de prosseguir com a queda são bem maiores. Hoje, por exemplo, estou vendo agora (10:46h) que já caiu -2,74% em menos de 1 hora. Agora que estou revisando o artigo e cheguei novamente a esse ponto, fui dar uma olhada e (11:56h) a queda já está em -3,82%.
Ontem a Tamara me contou que foram publicadas várias matérias nas quais Luis Barsi estava dizendo que está adorando a queda e comprando tudo que pode. O título de uma das reportagens é “Estou comprando tudo aquilo que é possível comprar”. Então decidi escrever um artigo sobre isso. Para começar, é interessante questionar por que alguém compraria logo no início de uma queda? E por que tantas mídias estariam divulgando essa declaração nos últimos dias? A primeira resposta é bastante simples: a pessoa compra no início de uma queda porque ela não tem ideia do que está fazendo, e as probabilidades de ela perder com isso são muito maiores do que as probabilidades de ganhar. Esse fato se pode constatar pela evolução do patrimônio de Barsi, que tinha 1,1 bilhões de dólares em 2013, segundo reportagem na revista EXAME, e atualmente tem 0,22 bilhões de dólares, uma desvalorização de -79,50% em apenas 7 anos. Além disso, em uma entrevista de 2016, Barsi disse que em janeiro de 2008 recomendava a compra de Eternit e ele próprio era um dos maiores acionistas desta empresa. Entre janeiro de 2008 e abril de 2016 (data da entrevista), a Eternit sofreu uma desvalorização de -74,74%, que pagou 54,46% de dividendos sobre o valor nominal inicial da ação, conforme consta em: http://eternit.riweb.com.br/Download.aspx?Arquivo=EJMj++YRGnHWMiBvxM9/EQ== Depreciando os pagamentos dos dividendos gradualmente com a inflação, foram cerca de 43,71%. Portanto: (1-0,7474) x 1,4371 = 0,3630, isto é, houve uma desvalorização de -63,70% do capital investido, mesmo considerando os pagamentos de dividendos. Então nos últimos 12 anos parece que Barsi perdeu mais de 89% de seu patrimônio, com sua estratégia de dividendos e suas compras durante o início das quedas. Infelizmente não encontrei nenhum registro mais antigo com informações sobre o patrimônio de Luis Barsi, e muito menos algum fundo ou um histórico detalhado de resultados. Só encontrei informações nebulosas e vagas, bem como a lenda sobre como ele teria acumulado seu patrimônio bilionário, que é completamente inconsistente com a evolução de seu patrimônio nos últimos 12 anos. Em relação à segunda pergunta, a resposta é um pouco mais complexa: quando começam as quedas, os grandes investidores que haviam comprando suas ações alguns anos antes, a preços bem menores, precisam vender estes papéis para materializar seus lucros. Mas se a queda estiver muito rápida, eles não encontrarão compradores em volume suficiente para absorver essas vendas, ficando de mãos atadas, vendo seus papéis se desvalorizar e sem ter para quem vender. Então o que fazem? Contratam “laranjas”, contratam agências de publicidade, compram espaços em revistas e jornais e começam a disseminar informações que incentivem as pessoas menos esclarecidas a entrar comprando. Em 2008, por exemplo, alguns meses antes da grande queda de mais de 55%, chegando a mais de 70% em algumas empresas, as mídias estavam divulgando todo tipo de incentivo para que novos investidores entrassem no mercado de ações, ou para aqueles que já estavam no mercado aumentassem suas posições. Uma das notícias que circulou em várias mídias em meados de 2008 foi a de que as pessoas que haviam resgatado o FGTS em 2000 e aplicado em ações da Petrobrás já haviam lucrado mais de 600%. A notícia era verdadeira, porém isso indicava que as ações da Petro provavelmente estavam caríssimas e logo deveriam desabar, mas na cabeça das pessoas menos informadas, se havia gerado quase 700% de lucro nos últimos 8 anos, provavelmente gerariam outros 700% nos 8 anos seguintes, que é um pensamento completamente equivocado, mas é como a grande maioria “analisa”, e conhecendo esse vício na maneira como as pessoas reagem a esse tipo de informação, os grandes investidores contratam serviços de publicidade para produzir esse efeito e induzir pessoas a comprar as ações que eles precisam vender antes que os preços desabem. Outra notícia amplamente divulgada na época foi de uma pessoa que teria ganho cerca de R$ 1 milhão em 2 anos. Esta notícia eu não sei dizer se era verdadeira, mas mesmo que fosse, o fato de uma pessoa ter ganho com um investimento específico, num período específico, não significa que outras pessoas poderiam ganhar no mesmo investimento, ou em outros investimentos, num período diferente. A Magazine Luíza, por exemplo, experimentou uma valorização absurda em suas ações num intervalo muito curto, as bitcoins também, porém quem lucro de fato com isso? Eu não conheço ninguém que tenha identificado corretamente os momentos de entrar e sair nas ações da Magazine Luiza nem em bitcoins. Conheço várias pessoas que estavam convidando outras para aplicar em bitcoins, mas não sei de nenhuma que tenha ganho valores substanciais com isso. Certamente alguns ganharam um pouco, ou perderam um pouco, mas são raros os casos de pessoas que ganharam mais de 100% sobre volumes acima de R$ 100.000 com bitcoins ou magazine Luiza, isso porque embora esses ativos tenham passado por períodos com mais de 500% de valorização, as pessoas nunca sabem qual é o momento certo de comprar e de vender. A pessoa compra, apostando que vai subir, dá uma subida de 20%, a pessoa se anima, depois cai 40%, a pessoa se apavora e vende, depois sobe 1000%, mas a pessoa já havia vendido com perda. Ou a pessoa entra, sobe 20%, 50%, 100%, a pessoa fica esperando subir mais, então começa a cair, a pessoa vê que vai zerar seu lucro, então vende enquanto ainda há um pouco de lucro, depois volta a subir, mas ela já havia vendido. Ou a pessoa fica aguardando para comprar, passa meses analisando, até que decide comprar, e entra perto do máximo, então começa a cair e ela fica aguardando subir, mas não sobe... cai 20%, 50%, 70%, até que ela desiste e acaba vendendo. Estes são os casos mais comuns. A pessoa sabe que é muito raro subir mais de 10% ou 20%, por isso quando o lucro chega a esse patamar, geralmente a pessoa vende, e se continuar a subir, a pessoa não participa da maior parte do lucro. A pessoa até chega a pensar em comprar de novo, quando percebe que continua subindo, mas ela prefere esperar cair a um valor um pouco menor do que ela havia vendido, e isso pode nunca acontecer. Então depois que já subiu uns 500%, a pessoa finalmente decide entrar de novo, e acaba pegando só um restinho de lucro, ou até pegando no ponto de inversão e sofrendo perdas, mesmo num ativo que tenha valorizado mais de 1000%. O fato de bitcons terem subido mais de 10000% não implica que alguém tenha conseguido desfrutar esses ganhos. Na verdade, poucos chegaram a ganhar mais que 50%, e vários outros perderam os mesmos 50%. No fim das contas, a probabilidade de ganhar com bitcoin ou com magazine luiza é aproximadamente igual à probabilidade de ganhar com qualquer outro ativo. Para ganhar não basta entrar num investimento que esteja subindo. É necessário que continue subindo e é necessário identificar o momento certo de sair. Continuar subindo tem cerca de 50% de probabilidade, mas identificar o “momento certo” é muito difícil. O significa de “momento certo” é um pouco subjetivo, mas pode ser interpretado o momento no qual se configuram padrões que indicam cerca de 55% de probabilidade de que as cotações irão na direção oposta. Identificar corretamente esses padrões é extremamente difícil, conforme já comentei em muitos artigos. Se a pessoa consegue identificar tais momentos, ela não precisa de que um ativo esteja subindo ou caindo, ela ganha em qualquer cenário. E se a pessoa não souber identificar esses momentos, não importa se está subindo ou caindo, ela não vai ganhar (a não ser por sorte). Agora a notícia da vez é que Luis Barsi estaria comprando, aproveitando os preços “baixos”. Mas os preços não estão baixos. A queda está apenas começando, e não se sabe em que ponto vai parar. Só se tem elementos suficientes para avaliar que a temporada de queda provavelmente “terminou” e o mercado vai retomar o crescimento depois que já caiu muito e, após “bater no fundo”, começou a se configurar uma nítida tendência de alta. No livro “Trading like Jesse Livermore”, são analisados vários padrões desse tipo, em que após uma longa queda, começa a se configurar um pequeno “rabicho” de alta. Há vários parâmetros que precisam ser considerados para distinguir os falsos positivos nesses casos, mas, de modo geral, é algo como no gráfico abaixo:
Há outros padrões que também indicam que a probabilidade de o preço ir em determinada direção é maior que 55%, e estes sim são momentos de comprar. Mas se agora não é um bom momento para comprar, por que um dos maiores investidores individuais da Bovespa está comprando e recomendando compra? Os resultados reais que Barsi produz são compatíveis com a qualidade de seus discursos, só não enxerga quem não quer, isto é, a grande maioria. As pessoas querem acreditar que ganhar no Mercado financeiro é simples, e o personagem Barsi atende muito bem aos anseios desse público. Qualquer pessoa com um pouco de visão crítica percebe que a lenda sobre como ele teria se tornado bilionário não encontra o mínimo de respaldo nos fatos. Apesar disso, ele continua a ser aclamado como uma autoridade em investimentos, e uma legião de fanáticos continua a seguir suas recomendações, bem como as mídias continuam a noticiar as opiniões dele como se fossem uma valiosa fonte de sabedoria. Infelizmente há diversos personagens históricos com perfil desse tipo, que contam com milhões de seguidores incapazes de enxergar a realidade diante de seus narizes. Por isso, quando a bolsa começa a desabar, e os grandes investidores precisam de liquidez para vender, é possível que patrocinem entrevistas com Barsi. O investidor não precisa contratar Barsi para dizer o que ele diz, porque ele faz isso espontaneamente. Basta sugerir a algumas revistas que entrevistem o Barsi. Se não funcionar, podem pagar para as revistas fazerem tal entrevista, porque com certeza virá à tona o discurso de que ele adora entrar quando a bolsa está caindo. E deve ser verdade, porque isso explica a velocidade com que seu patrimônio vem diminuindo nos últimos 12 anos. A ilusão de que ganhar no Mercado requer conhecimentos básicos acessíveis a todos é muito sedutora, mas o mundo real é bem diferente. Métodos simplórios e mágicos, baseados em receitas de bolo, invariavelmente falham. É como disse H. L. Mencken “Para todo problema complexo existe uma solução simples; simples e errada...” Isso descreve muito bem o que acontece na bolsa. As propriedades do Mercado Financeiro são extremamente complexas e difíceis de serem modeladas. Se fosse tão simples ganhar, todos ganhariam, e se todos ganhassem, quem seriam os perdedores que pagariam o lucro dos ganhadores? A realidade é que a esmagadora maioria opera de forma equivalente a operações aleatórias, mas cada um tem a ilusão de que está fazendo escolhas que lhe proporciona alguma vantagem. Basta que as estratégias utilizadas sejam testadas de forma sistemática, para evidenciar a fragilidade de seus métodos e constatar que o resultado final é o prejuízo. Quem ganha são as corretoras, que recebem taxas em cada operação realizada, são os vendors de sinal DDE, e alguns raríssimos gestores (menos de 10 no Brasil), enquanto todos os demais perdem o dinheiro que é distribuído entre estes que ganham. Ganhar no Mercado durante poucos anos, por sorte (com o mercado em alta), é normal. Mas ganhar de forma consistente a longo prazo, num patamar acima do índice, é dificílimo! Pouquíssimos conseguem obter ganhos consistentes a longo prazo, e quando a bolsa está em queda, o número de ganhadores fica ainda mais exclusivo, porque exige estratégias que funcionem tanto na alta quanto na baixa. Entre 2006 e 2009, com a grande queda de 2008, o fundo Sparta foi o que mais ganhou no mundo, chegando a 1000% de lucro em 3 anos, porém não manteve consistência nos 10 anos seguintes, inclusive atravessou a crise de Grécia e outras, sem voltar obter lucros substanciais, deixando claro que sua estratégia não funciona nos cenários “normais” de alta nem nos cenários “normais de queda”. Funcionou apenas num caso específico de queda entre 2006 e 2009. A maioria dos outros funciona só na alta, porque não há como errar num mercado em alta. O grande diferencial dos melhores investimentos que existem está justamente em ganhar tanto na alta quanto na queda. Então qual é a resposta à pergunta do título desse artigo? A resposta é: a pergunta deveria ser outra. A pergunta não deveria ser quem ganha na queda, ou como ganhar na queda. A pergunta deveria ser como ganhar sempre, em qualquer cenário. James Simons, por exemplo, ganha indiferentemente em qualquer cenário, o que faz dele o investidor mais consistente do mundo. Entre 2010 e 2020, os usuários do Saturno também foram brindados com resultados diferenciados em todos os aspectos: alta performance, baixíssimo risco efetivo (veja nosso artigo sobre risco), consistência de longo prazo, além de um amplo e sólido suporte teórico, baseado em mais de 120 anos de backtests, atravessando os mais variados cenários. Os períodos mais longos abaixo da marca d’água duraram menos de 1,2 anos, enquanto os períodos mais longos abaixo da marca d’água na Bovespa ultrapassam 20 anos (corrigido pela inflação) e mais de 80 anos no DJI. Quem utiliza o Saturno V está tranquilo, com lucros de 7,5% em dezembro de 2019, 3,0% em janeiro de 2020 e 2,0% em fevereiro de 2020, enquanto a Bovespa teve uma pequena subida em dezembro, mas logo em seguida desabou como pedra, gerando mais de 10% de prejuízo. Mas o motivo principal de os usuários do Saturno V estarem tranquilos não é essa vantagem nos meses recentes, mas sim a vantagem de longo prazo, com mais de 2000% de lucro acumulado em dólares desde 2010, enquanto o Ibov estava negativo (em dólares) até recentemente. Quem atravessou momentos mais dramáticos como a quebra de várias corretoras e bancos, em janeiro de 2015, com a oscilação no EURCHF, sabe bem a diferença entre estar utilizando o Saturno ou outras alternativas. A FXCM, uma das maiores corretoras dos EUA, perdeu tudo, mais de 300 milhões de dólares, em poucos minutos. E enquanto o mundo estava desabando em desespero, com várias instituições e vários investidores perdendo mais do que tudo a possuíam, o Saturno teve apenas 4% de perda, e recuperou logo em seguida, voltando a aumentar progressivamente seu lucro. Quem ainda não está utilizando o Saturno, tem a sorte de que as quedas na bolsa acabam tirando as pessoas da zona de conforto e levando-as a buscar alternativas, e com isso muitos acabam tomando conhecimento sobre a existência do Saturno. Quando a pessoa está acomodada, ganhando 1,5% ao ano acima da inflação, ela não se preocupa em pesquisar alternativas melhores, mas quando ela começa a perder 10% em 1 dia, e todo o lucro que havia obtido nos últimos 10 anos vai por água abaixo, ela toma um choque de realidade e se vê pressionada a pesquisar por algo melhor. 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