Nos últimos meses, alguns amigos fizeram sugestões de conteúdo a ser colocado no site. Leandro Nazzari me sugeriu colocar informações sobre as estimativas de rentabilidade, e comentou que muita gente não saberia como calcular isso. Edoardo Vigano falou sobre a necessidade de escrever artigos sobre temas mais básicos, porque só uma fração pequena dos leitores acaba se interessando e desfrutando o conteúdo dos artigos mais técnicos. Outras pessoas já haviam feito sugestões semelhantes.
Há certos temas que estão em milhares de sites, e este é um dos motivos pelos quais não gosto de abordá-los, pois quem procura esse tipo de informação, já tem à disposição um vasto conteúdo on-line. O que falta na web são artigos sobre temas mais profundos, complexos, sofisticados e abordados com maior rigor, por isso tento preencher esta lacuna, de modo a atender a um público ávido por material de um padrão mais elevado. Além disso, boa parte de meus artigos traz alguma inovação, portanto é o tipo de conteúdo que não se encontra em nenhuma outra fonte no mundo, e isso agrega valor real ao conteúdo da Web sobre investimentos, ao passo que escrever artigos sobre temas elementares acaba me causando a sensação de desperdício de tempo, explicando algo que outras pessoas já estão dizendo por aí, e deixando de aplicar melhor este tempo.
Por outro lado, a partir do momento que se constata que mesmo em questões mais básicas há muitos erros sendo cometidos, inclusive em revistas especializadas e respeitadas, surge a necessidade de se abordar estes temas de maneira correta. Combinando isso com a necessidade publicitária de alcançar um público mais numeroso, há alguns meses tenho procurado me disciplinar para abordar mais tópicos que atendam a estes quesitos. Apesar de meus esforços nesse sentido, frequentemente me vejo desviando-me da proposta original e escrevendo sobre assuntos mais complexos...
Há algum tempo, vi uma matéria numa revista especializada em que o autor falava sobre “ganhos” na poupança como se fossem ganhos reais, e desenvolvia uma análise incorreta em cima disso, culminando com declarações sobre a pessoa poder comprar um apartamento por mês, se aplicasse na poupança o valor ganho na Mega Sena acumulada.
De fato, a pessoa poderia comprar um apartamento por mês, porém o dinheiro diminuiria a cada compra, e cada vez mais rápido. Se ela não comprasse nada, apenas deixasse na poupança, mesmo assim o dinheiro diminuiria, porque a poupança oferece um ganho nominal menor que o ganho nominal da inflação, portanto a poupança gera uma perda real, ou um ganho real negativo. Por isso decidi escrever esse artigo, para explicar a diferença entre “ganhos reais” e “ganhos nominais”. O artigo a que me refiro acima é este: http://www.infomoney.com.br/onde-investir/renda-fixa/noticia/3202048/105-milhoes-mega-sena-renderiam-apartamento-por-mes
O que são ganhos reais e ganhos nominais?
Os lucros nominais são aqueles decorrentes da diferença entre os valores monetários, isto é, números representados por dinheiro (reais, dólares, euros, dinares, pfennigs etc.), sem levar em conta a desvalorização desse dinheiro. Se a pessoa tinha R$ 100.000,00 no ano passado e agora tem R$ 120.000,00, ela teve 20% de lucro nominal, porque 120.000 – 100.000 = 20.000. E dividindo 20.000 por 100.000 resulta em 0,2. Se multiplicar 0,2 por 100, temos 20. Portanto seu lucro foi de 20% = 0,2. Mas quanto representa, em termos reais, este lucro de 20% nominal? Como converter lucro nominal em lucro real? A resposta é: depende da inflação. Quanto maior a inflação, maior é a desvalorização da moeda perante os bens, portanto maior é diferença entre lucro real e lucro nominal.
Na grande maioria dos sites, textos, vídeos, revistas etc., fala-se quase exclusivamente dos lucros nominais, porque parecem maiores, já que são números maiores, assim acabam sendo mais atraentes aos olhos da maioria. Isso me faz lembrar à diferença entre potência PMPO e potência RMS, que são análogos às medidas usadas para determinar erros nas superfícies ópticas de telescópios (P-V e RMS).
A potência PMPO é essencialmente um truque publicitário para fazer os aparelhos de som parecerem mais potentes do que realmente são. Os lucros nominais também são usados por bancos, corretoras e fundos para fazer os investimentos parecerem melhores do que realmente são. Em contrapartida, a potência RMS informa a real potência do aparelho, assim como os lucros reais.
Os telescópios são classificados, segundo o design óptico, em 3 tipos: dióptricos, catóptricos e catadióptricos. Comecei a escrever sobre as diferenças destes designs, mas acabei removendo, porque estava ficando muito longo e não tem muita relação com o tema. Para não desperdiçar o que foi escrito até o ponto em que interrompi, coloquei num apêndice (depois vou organizar melhor este apêndice), a título de curiosidade, para quem tiver interesse. Aqui trataremos apenas de forma superficial do catóptrico, mais popularmente conhecido como “refletor” ou “newtoniano”, com ênfase na topologia das superfícies ópticas, que é o que guarda relação mais estreita com o tema do artigo.
Para compreender a diferença entre RMS (Root Mean Square) e P-V (Peak to Valley), é suficiente saber que os refletores possuem um espelho primário, com superfície refletora curva, na qual incidem os raios de luz aproximadamente paralelos e são redirecionados de modo a convergir para um espelho secundário plano, que por sua vez direciona o cone de luz para uma ocular. Antes de chegar à ocular, os raios convergem quase exatamente para um mesmo ponto, o foco, e depois passam a divergir com a imagem invertida, e prosseguem assim até chegar ao olho. A qualidade da imagem que chega ao olho depende de vários fatores, entre os quais a topologia da superfície do espelho primário.
Idealmente, para uma imagem teoricamente perfeita, a superfície do primário deveria ser uma curva exatamente aderente a uma capa de hiperboloide, tendo o foco da curva coincidente com o centro do espelho. Mas na prática isso não acontece, porque em escala microscópica a superfície aparentemente lisa do espelho apresenta várias irregularidades. A medida destas irregularidades é um dos parâmetros que determina a qualidade da imagem que chegará ao olho. Quanto maiores e mais numerosas forem as irregularidades, pior será a imagem.
Se houver bem poucas irregularidades, mas uma delas for muito grande, então a imagem é seriamente prejudicada. Se não houver nenhuma grande irregularidade, mas houver muitas irregularidades pequenas (acima de um certo limite crítico), a imagem também será prejudicada.
Para medir o efeito combinado de todas estas irregularidades de diferentes tamanhos, faz-se uma interferometria, que é uma varredura de muitos pontos na superfície do espelho, tentando cobrir uma área tão representativa quanto possível da superfície inteira, sem deixar de medir nenhuma irregularidade de proporções relevantes. Em seguida, soma-se o quadrado de todas estas irregularidades, divide-se pelo número de pontos observados e extrai-se a raiz quadrada. O resultado disso é o erro RMS da superfície, que proporciona uma ideia global sobre a qualidade do espelho. O erro P-V é simplesmente o maior erro observado, e proporciona uma ideia punctual sobre a magnitude da maior irregularidade observada, assumindo que esta seja uma representação razoável de como devem ser as outras irregularidades para que a maior atinja este nível.
Alguns fabricantes de espelhos fazem interferometrias sem o nível de rigor de um laboratório, cobrindo uma quantidade pequena de pontos de referência e, com isso, deixando de medir algumas das maiores irregularidades na superfície. Isso produz uma medida P-V artificialmente pequena e faz parecer que a qualidade óptica do espelho é melhor do que na verdade é. Isso torna a medida P-V pouco confiável, quando é obtida a partir de uma interferometria com poucos pontos, mas a medida RMS é robusta e não padece do mesmo problema, mesmo quando o número de pontos varridos é pequeno, o valor RMS é bem menos afetado.
Não creio os construtores de telescópios façam a varredura de poucos pontos com má intenção, mas sim porque quando se constrói o próprio interferômetro, como nos casos de Sandro Coletti, Dario Pires e outros, grande parte do processo é feita manualmente, e isso demanda bastante tempo na leitura de cada ponto, por isso é desmotivador varrer centenas ou milhares de pontos. Como a medida RMS cumpre a função de determinar a qualidade óptica, acaba não compensando um esforço excessivo para obter também um valor acurado de P-V.
As medidas RMS e P-V servem tanto para medir irregularidades em espelhos curvos quanto em planos, tanto em espelhos quanto em lentes, ou qualquer superfície, inclusive superfícies imateriais, como um gráfico que represente a variação na intensidade sonora ao longo do tempo.
Em Acústica, as medidas RMS e PMPO são análogas às medidas de RMS e P-V dos erros em superfícies ópticas de telescópios. RMS se refere à potência média de todos os comprimentos de onda do som dentro de um certo intervalo, geralmente entre 10 Hz e 40.000 Hz, ou faixas um pouco mais estreitas, de 20 Hz a 20.000 Hz.
A medida PMPO informa apenas o pico de intensidade medido em diferentes frequências ao longo de um certo intervalo de tempo. É quase um absurdo usar medida PMPO para qualquer finalidade relacionada à potência, porque quanto maior for a largura do espectro considerado, quanto mais longo o tempo do teste e quanto mais curto for o tempo de duração dos picos considerados, maior será a probabilidade de se encontrar um pico de intensidade arbitrariamente elevada, portanto não tem relação com a potência ou a qualidade do aparelho, mas sim com o empenho publicitário em gerar números tão grandes quanto se queira.
Se houvesse normas que regulassem e padronizassem as condições nas quais os testes para medida de PMPO devem ser realizados, com todos os testes seguindo o mesmo protocolo, então a medida PMPO poderia ser útil. Mas com cada empresa fazendo os testes como bem entende, não há como extrair informações úteis com base nos resultados obtidos por diferentes experimentos, com diferentes níveis de rigor.
É importante notar que, diferentemente da P-V, a medida PMPO não é de um erro, que deveria ser o menor possível, mas sim uma potência, que deveria ser a maior possível, por isso quase não há limites para o tamanho da distorção que se pode ter no resultado da medida de PMPO, em comparação à potência real RMS. Claro que há um limite imposto pela potência elétrica do aparelho, mas como a medida PMPO não distingue ruído de música, então um pico de energia que afete o aparelho durante o teste pode implicar um resultado excepcional de PMPO, além dos picos de curtíssima duração e em regiões inaudíveis ou quase inaudíveis do espectro, que não chegam a ser sentidas pelo ouvido, mas podem inflar muito o resultado do teste e produzir valores extremamente exagerados de PMPO.
Numa comparação grosseira, RMS seria o equivalente à medida de lucro real, enquanto PMPO seria uma medida de lucro nominal. Com a ressalva de que o problema na medida do lucro nominal não está relacionada ao fato de ser determinado ou não por um valor médio, mas sim por não ter uma correção de escala com base no efeito da inflação. O lucro real para a maioria das aplicações de varejo costuma ser negativo ou perto de 0. Quando se desconta o imposto sobre ganho de capital, quase sempre o ganho real fica negativo. Isso se torna mais grave nos períodos de hiperinflação, em que as perdas depois de pagar imposto são maiores.
Já o lucro nominal é quase sempre positivo, e quando a inflação é alta, os lucros nominais são também mais altos, o que ilude muitos investidores. É engraçado e ao mesmo tempo triste que muitos investidores fiquem felizes ao verem os grandes números dos lucros de seus investimentos quando o país atravessa uma fase de hiperinflação, sendo que estes grandes números indicam justamente que ele está perdendo mais que o normal!
Nos períodos de hiperinflação, como no final dos anos 1980 e início dos 1990, em que a Economia brasileira passou por seu período de maior volatilidade, se a pessoa aplicasse Cz$ 1.000.000 em março de 1988 e tivesse Cz$ 50.000.000 em março de 1989, o lucro nominal seria de 4900%, e a pessoa teria que pagar 15% de imposto sobre estes Cr$ 49.000.000 de lucro nominal, ou seja, Cr$ 7.350.000 de imposto. Porém a inflação no período foi de 4854%, então o lucro real, sem descontar impostos, foi de apenas cerca de 0,93%!
Por que 0,93%? Se o lucro nominal foi 4900% e a inflação foi 4854%, não seria 4900%–4854%=46%? Não! O correto é: (100%+4900%)/(100%+4854%)–100%=0,93%. Então a pessoa teve um lucro real de Cz$ 9.300 e pagou Cz$ 7.350.000 de impostos sobre um pseudo ganho de Cz$ 49.000.000, assim a pessoa teve um prejuízo real de Cz$ 7.340.700, sem contar tarifas bancárias, taxa de administração e outros custos.
A pessoa fica eufórica de felicidade, vendo que seu dinheiro aumentou tanto, passando de Cz$ 1.000.000 para Cz$ 50.000.000. Mas o que ela não enxerga é que este Cz$ 50.000.000 de agora tem poder de compra equivalente a Cz$ 1.009.300 da época em que fez a aplicação de Cz$ 1.000.000, ou seja, se a pessoa usasse o dinheiro para comprar ovos, leite, pão, trigo, ouro, gado, petróleo, cacau, diamantes etc., a quantidade que ela conseguiria comprar destes bens com Cz$ 1.000.000 no início do período corresponde quase à mesma quantidade que ela conseguiria comprar dos mesmos bens ao final do período com Cz$ 50.000.000, ou seja, os Cz$ 50.000.000 de agora valem quase a mesma coisa que Cz$ 1.000.000 no início da aplicação. O dinheiro aumentou de Cz$ 1.000.000 para Cz$ 50.000.000, mas os produtos que se podia comprar também aumentaram de Cz$ 1.000.000 para Cz$ 49.540.000, de modo que o poder de compra teve um ganho real bem pequeno. Se o dinheiro aumentou 4900% e os bens aumentaram 4854%, então o ganho real foi de apenas 0,93%. E como o imposto é cobrado sobe o ganho nominal de 4900%, o que é um completo absurdo, então a pessoa acaba pagando imposto sobre ganhos que na verdade ela não teve! Foram ganhos apenas ilusórios, devido a uma mudança de escala, e o lucro precisaria ser calculado com base na nova escala, que é determinada pela inflação. Pagar impostos sobre ganhos nominais é muito revoltante.
A pessoa fica com a ilusão de que ganhou 4900%, quando verdade ganhou 0,93%. E depois de pagar 15% de imposto sobre 4900%, ela fica com um prejuízo real de 14,68%! O correto seria que os impostos de 15% incidissem sobre 0,93% de lucro real, resultando em 0,14% de impostos, restando 0,79% de lucro real. No entanto o governo não tem e nunca teve interesse em fazer o cálculo de forma correta, mas sim em invadir o patrimônio alheio e se apropriar do máximo possível. Isso dilapidou o patrimônio de milhões de pessoas durante este período, e se repete sempre que há um período de hiperinflação. Este é um subterfúgio por meio do qual o governo consegue aumentar sua arrecadação de forma completamente abusiva. É um artifício conveniente, deixar a inflação aumentar, ou até tomar as necessárias providências e agir intencionalmente para que a inflação cresça, de modo que o Estado não cobre impostos apenas sobre os ganhos, mas também penetre no patrimônio anterior aos ganhos, de forma invisível para a maioria da população, que não enxerga o efeito e ainda ficam felizes com os grandes ganhos nominais da poupança e outras aplicações.
Nos períodos de hiperinflação, as pessoas perdem quase 15% ao ano de seu patrimônio, em termos reais.
Quando não se está num período de hiperinflação, o efeito é menos terrível, e o engraçado é que quando é menos terrível a pessoa fica triste, achando que os ganhos são pequenos!
Quando a pessoa vê que determinado fundo está rendendo apenas 10% ao ano, nominal, ela já acha pouco. Imagine se a pessoa soubesse que na verdade este fundo está rendendo 1,8% ao ano de lucro real, depois de descontar inflação e taxa de administração. E pior, quando a pessoa pagar seus impostos sobre ganho de capital, estes impostos serão calculados com base nos 10% nominais, não com base nos 1,8% reais, de modo que, após descontar os impostos, seu ganho líquido real terá sido de 0,3% ao ano. Péssimo! Mas agora compare com a situação da hiperinflação:
Caso 1 Inflação: 4854% ao ano Lucro nominal: 4900% Lucro real: 0,93% Imposto sobre lucro nominal: 14,68% Taxa de administração: 1,5% Lucro líquido real depois de pagar impostos e taxa de administração: -16,18% Caso 2 Inflação: 7% ao ano Lucro nominal: 10% Lucro real: 2,80% Imposto sobre lucro nominal: 1,5% Taxa de administração: 1% Lucro líquido real depois de pagar impostos e taxa de administração: +0,3% A situação com inflação de 7% ao ano é realmente péssima, com lucro real de apenas 0,3% ao ano, mas quando a inflação é maior, fica muito pior, chegando a quase 15% negativo.
O impacto da taxa de administração sobre os lucros depende também de como ela é aplicada, se no início do período, se mensalmente, se ao final do período.
Para entender melhor a diferença conceitual entre ganhos reais e ganhos nominais, vamos recuar no tempo e analisar os preços de algumas commodities, a invenção da moeda e um pouco de sua evolução ao longo dos séculos.
Um ovo na época do antigo Império Romano valia aproximadamente o mesmo que hoje, e o mesmo que valia na Idade Média. Um grama de ouro ou um quilograma de trigo também não mudam sensivelmente de valor absoluto ao longo dos séculos ou milênios. Os valores destes itens, comparados uns aos outros, quase não variaram muito de valor. Mas o dinheiro muda seu valor em poucas décadas, anos ou mesmo dias. Na hiperinflação que assolou a Hungria depois da segunda guerra mundial, chegou-se a 200% ao dia, portanto em questão de minutos já se tinha uma inflação acumulada na Hungria maior do que se tem no Japão durante 1 ano.
Esta desvalorização do dinheiro em comparação aos bens é o que chamamos “inflação”. Para mais detalhes sobre preços ao longo da história.Os preços de commodities, como algodão, café, trigo etc., possibilitam estimar os valores de outros bens usando estas commodities como unidade. Por exemplo: 1 onça de ouro vale 3,33 toneladas métricas de milho. A antiga tonelada métrica correspondia a 2240 libras, portanto 1.016,0469088 kg, mas foi recentemente ajustada ao sistema métrico de modo a fazer com que 1 tonelada seja igual a exatamente 1.000 kg. Não sei se a onça também foi ajustada ao sistema métrico, ou se foi mantido o valor original de 1/16 de libra. Se não foi ajustada, conserva o valor 28,349523125 g (veja update). Então 1 g de ouro equivale a 119.300 g de milho ou 117.500 g de milho, dependendo se a onça foi metrificada ou não.
O valor do grama de ouro medido em dólares, ou reais, ou em qualquer moeda pode variar muito ao longo do tempo, inclusive muitas das moedas nem existiam em certas épocas, e se recuar no tempo o suficiente, ainda nem havia sido inventada a moeda. Mas o valor do grama de ouro medido em toneladas de milho é muito mais estável, sofrendo algumas oscilações sazonais ao longo do tempo, mas não são variações cumulativas, de modo que em períodos muito longos, acaba-se retornando ao preço inicial.
Pode acontecer de algumas vezes o petróleo se valorizar mais que o ouro durante alguns meses ou anos (ou o contrário), ou o boi gordo se valorizar mais que o gás natural (ou o contrário), mas costumam ser flutuações relativamente pequenas e não cumulativas, por isso em períodos suficientemente longos, acabam oscilando para cima e para baixo, mas se mantendo aproximadamente dentro de um intervalo de variação relativamente estreito. Também pode acontecer de algumas commodities se extinguirem, como acontecerá com o petróleo nas próximas décadas, ou surgirem novas commodities.
Para estabelecer uma escala de referência que não mude ao longo do tempo e permita comparar preços em diferentes épocas, foi criado o conceito de “inflação”, que é calculada com base não apenas em uma commodity, mas em várias commodities combinadas, assim as flutuações nos preços individuais de algumas delas acabam sendo compensadas pelas variações opostas nos preços de outras, e se consegue uma suavização na curva que estabelece os preços de referência em qualquer época.
A inflação é um parâmetro para se converter escalas monetárias, que possibilita ajustar os valores de qualquer produto em qualquer época num valor padronizado, de modo que seja possível comparar valores de diferentes épocas numa mesma escala. Esta propriedade da inflação não é arbitrária. Ela é assim porque o cálculo da inflação é feito com base na média ponderada da variação nos preços de uma grande variedade de bens que sejam os mais representativos da totalidade da Economia.
Por isso a inflação possibilita calcular os lucros e prejuízos reais ao longo do tempo, porque é ela que determina a escala em que os valores precisam ser medidos. R$ 1,00 hoje não vale o mesmo que R$ 1,00 em 2000.
Quanto valia um R$ 1,00 em 2000? Basta descontar a inflação dos últimos 15 anos para obter a resposta.
Então os valores reais nada mais são do que os valores nominais corrigidos pela inflação. Ou os valores nominais são os valores reais sem serem corrigidos pela inflação.
A forma correta de se fazer qualquer tipo de comparação de riqueza, poder aquisitivo, valores de bens e produtos é com base nos valores reais, não importa se a comparação é feita com uma defasagem de tempo de 1 mês ou 1 século. Claro que em 1 século o erro acumulado no valor nominal é muito maior, inclusive algumas unidades monetárias deixam de existir, ou mudam de nome. Mas mesmo quando se trata de um período de poucos meses ou dias, ou até mesmo minutos, como vimos no exemplo da Hungria pós-guerra, se não descontar a inflação, os cálculos também ficam incorretos. Isso é particularmente grave quando se opera com margens estreitas, em que a magnitude dos ganhos é semelhante à magnitude da inflação no mesmo período, e quase sempre é assim.
O caso da poupança, por exemplo. Quanto rendeu a poupança desde 1966? Seu rendimento nominal foi de 63.800.000.000.000%, já corrigindo todas as mudanças de moedas ao longo desse período. Isso significa que se existisse o Real naquela época e fosse investido R$ 1,00 na poupança em 1/10/1966, e mantido lá sem mexer durante estes 49 anos, hoje este R$ 1,00 teria se transformado em R$ 638.000.000.000,00 (638 bilhões), quase 10 vezes mais que a fortuna de Bill Gates.
Fantástico, não? Não. Mera ilusão! Para se ter ideia, em 1966 o PIB do Brasil era menor que R$ 1,00. Como as moedas foram mudando de nome várias vezes, cortando zeros etc., acabou-se perdendo de vista quanto vale R$ 1,00 em comparação a Cr$ 1,00, e isso dificulta o correto entendimento dos valores envolvidos. Com R$ 1,00 em 1966 seria possível comprar 900.000 ilhas iguais a de Stor Grötholmen, ao passo que com R$ 638.000.000.000,00 hoje seria possível comprar 1.200.000 destas ilhas, ou seja, o poder de compra real só aumentou em cerca de 33% ao longo de 49 anos.
Quando a pessoa faz os cálculos sem considerar a inflação, fica maravilhada com os resultados e cria a expectativa fantasiosa de que se conseguisse poupar e aplicar por algumas décadas, reuniria uma fortuna considerável, quando na verdade ela teria apenas um pouco mais do que a soma dos valores poupados, sem quase nenhuma valorização real. E se considerar a poupança depois de 2012, ela teria menos que a soma dos valores poupados!
Para que se possa ter uma medida correta sobre tudo isso, é necessário descontar a inflação e tratar tudo em forma de lucros reais e juros reais. Ao abordar o problema desta forma, constata-se que o rendimento real da poupança entre 1966 e 2015 foi de 33,11%. Isso mesmo, em vez de 63.800.000.000.000%, o rendimento real da poupança ao longo de quase 49 anos foi de 33,11%. Então se alguém tivesse aplicado R$ 1,00 em 1966, teria agora R$ 1,33. Este cálculo pode variar ligeiramente quando se adota diferentes índices de inflação, mas fica sempre perto dos 30% ao longo de 49 anos ou 0,6% ao ano. Por favor, não confunda com 0,6% ao mês de ganho nominal! O ganho real da poupança antes de 2012 era 0,6% ao ano, não ao mês, ou seja, seriam necessários quase 10 anos para acumular 6% de lucro real.
Os diferentes índices de inflação se devem ao fato de que não existe um consenso sobre quais são as commodites que devem ser usadas como referência no cálculo, nem o peso que deve ser atribuído a cada uma. Assim se tem o IPC, INPC, IPCA, IGPM, IGP-DI, IPA, INCC etc., calculados por diferentes instituições, com base em diferentes critérios, e diferindo ligeiramente um do outro, mas quando se considera a longo prazo, são muito semelhantes entre si, já que todos são baseados em variações nos preços de commodities, e elas variam aproximadamente em conjunto, ou melhor, elas variam pouco umas em relação ás outras.
Também é importante distinguir entre a poupança antes de 1/6/2012 e depois desta data. Antes de 2012, a poupança era um pouco mais rentável, e durante suas décadas de existência havia superado ligeiramente a inflação. Depois de 2012 ela passou a perder para a inflação, porque o governo fez algumas alterações no cálculo de rentabilidade da poupança com a finalidade de forçar os investidores a aplicarem nos fundos oferecidos pelos bancos, de modo a atender às pressões dos banqueiros, que estavam tendo menos lucros.
É fundamental que se compreenda este processo para perceber quanto é ilusório acreditar que aplicar na poupança o prêmio de uma loteria acumulada permitiria comprar um apartamento por mês com os juros. Seria possível comprar 1 apartamento por mês gastando o dinheiro e reduzindo o patrimônio a cada compra, mas não com os juros, que são na verdade negativos desde 2012.
Mas como começou tudo isso? As moedas foram inventadas na Fenícia, segundo algumas fontes, ou na China, segundo outras. Antes de existirem as moedas, os bens também possuíam valor, como sempre. Com ou sem moedas, os valores eram determinados por necessidade, interesse, disponibilidade, mas antes de haver moedas, os bens eram trocados conforme estes critérios. Quando se começou a fundir ouro e prata, estes metais tinham um valor intrínseco e serviam como unidades de referência de valor, oferecendo algumas vantagens em comparação às trocas, porque permitiam padronizar uma unidade de troca.
Para compreender a importância da padronização, vamos analisar um exemplo simples: João criava galinhas e precisava de um porco. Um porco valia cerca de 16 galinhas, mas para trocar 16 galinhas por um porco, era necessário que houvesse uma pessoa que tivesse um porco e estivesse disposta a se desfazer deste porco em troca de 16 galinhas. A probabilidade de isso acontecer entre duas pessoas próximas não era muito alta, e não havia Internet e eBay nesta época. Então João não conseguia trocar suas galinhas.
A partir do momento que se introduz uma unidade monetária, como a moeda de prata, esta serve como padrão para trocar qualquer coisa. Assim, a pessoa que tem 16 galinhas e quer 1 porco não precisa ficar semanas procurando por alguém que tenha um porco e aceite trocar por suas 16 galinhas. Basta vender as galinhas, receber uma certa quantidade de moedas, e levar estas moedas para trocar por um porco, e o dono do porco aceitará mais facilmente estas moedas do que as galinhas, porque com as moedas ele poderá comprar qualquer coisa que ele queira ou precise, não sendo necessário que ele aceite as 16 galinhas como pagamento. As moedas tem mais liquidez do que qualquer mercadoria, tem mais aceitação.
A introdução de um padrão monetário aumenta imensamente a liquidez do Mercado, facilita e agiliza as trocas, fazendo com que os negócios se tornem mais equilibrados, mais fáceis, mais justos.
Isso faz da moeda uma extraordinária solução logística para facilitar trocas. E como o cobre, a prata e o ouro são metais relativamente raros, estas moedas poderiam ter valor intrínseco. Se uma moeda de ouro fosse deformada ou derretida e remodelada, ela teria o mesmo valor. Se fosse ralada e se tornasse pó, ou cortada em vários pedaços, a soma dos pedaços teria mesmo valor.
Porém à medida que as civilizações foram se tornando mais sofisticadas, criaram o conceito abstrato de valor convencionado para as moedas. Elas valiam um número gravado nelas, não por terem um valor intrínseco, mas sim porque uma autoridade assim determinada e toda a população acatava. As moedas de ouro e prata passaram a ser substituídas por moedas de metais muito mais baratos, já que o valor delas deixou de depender do material de que eram feitas e passou a depender apenas do valor nominal cunhado numa das faces.
As moedas deixaram de ter valor intrínseco, e se fossem derretidas ou cortadas, perdiam totalmente o valor convencionado e mantinham apenas o valor do metal que as constituía. Em épocas de grande inflação, algumas pessoas passaram a comprar moedas de 1 centavo para derreter e vender os metais, porque a quantidade de níquel que elas possuíam passou a valer mais que o valor convencionado, já que o valor convencionado diminuiu com a inflação, mas o valor intrínseco dos metas que as constituíam foi preservado.
Isso se disseminou pelo mundo, criou muitas facilidades, e também muitos problemas. Na época das trocas de galinhas por porcos, não havia a possibilidade de alguém dar um porco falso em pagamento, embora pudessem fraudar no peso do porco. Mas mesmo que o peso do porco fosse medido numa balança adulterada ou com pesos adulterados, não havia como provocar uma distorção muito maior que 10% ou 20% sem ser notada. Outro ponto é que se uma pessoa administrasse mal sua fazenda e acabassem todos os seus porcos, o único jeito de ela voltar a ter porcos seria comprando mais porcos e criando-os novamente até se reproduzirem.
Antigamente não havia como juntar papel e tinha, imprimir este papel e gerar mais porcos. Mas na crise de 2008 foi exatamente isso que fizeram. Foi talvez a fraude mais escandalosa da história, com a complacência da Lei: 1 trilhão de dólares gerados ex-nihilo. Os bancos dos EUA concederam linhas de crédito sem garantias suficientes, porque seus funcionários eram incentivados a facilitar a aprovação de créditos para receber bonificações. Com isso, aprovavam solicitações de empréstimo sem que os tomadores dessem garantias adequadas, e seguiram fazendo isso durante anos. Muitos destes tomadores não tinham condições de pagar estas dívidas e foram acumulando inadimplências em cima de inadimplências, até que os bancos se viram insolventes, vários dos maiores bancos, de só uma vez, sem condições de se manter. O correto seria que falissem, pela péssima gestão que fizeram, no entanto foram protegidos pelo governo, que “foi até o quintal” e imprimiu 1 trilhão de dólares para salvar os bancos.
Mas como funciona o processo de gerar 1 trilhão de dólares, simplesmente jogando tinta em cima de papel, e transformando pedaços de papel que valiam menos de $ 0,10, em cédulas que valem $ 100? Quais as consequências de se produzir dinheiro do “nada”?
Bom, os produtos que existem no mundo possuem um certo valor, e a quantidade destes produtos não foi alterada quando se imprimiu mais dinheiro. Mas a quantidade de dinheiro no mundo aumentou em $ 1 trilhão. Então o preço de todos os produtos do mundo somados subiu na mesma proporção, para que a quantidade total de dinheiro no mundo continuasse a corresponder a quantidade total de produtos. Não é bem assim o processo, é mais complexo e também não é instantâneo, nem é exatamente proporcional, mas simplificadamente é quase assim. Isso significa que o dinheiro que cada pessoa possuía passou a valer menos, depois que os EUA imprimiram esse trilhão de dólares.
Não sei exatamente se isso configura estelionato, furto ou ambos, mas é certamente um procedimento desonesto. E o pior é que se não fosse feito isso, provavelmente a Economia mundial entraria em colapso, porque primeiro quebrariam os bancos, depois várias empresas, depois viria um tsunami de desemprego, escassez de produtos de primeira necessidade, porque as empresas deixariam de produzir e transportar. Os países que dependem da economia e dos produtos dos EUA (ou seja, todos) seriam também atingidos. Por isso acabaram preferindo engolir esse abuso, para não sofrer consequências ainda piores.
Então o dinheiro representou uma excelente solução, enquanto utilizava moedas de ouro, prata, cobre, com valores intrínsecos, que não podiam ser geradas a partir do nada, como foi neste caso. Se não fosse por este subterfúgio, os EUA teriam que descer de seu pedestal e pedir auxílio externo ao Japão, à Europa e até aos países do Oriente Médio. Ou isso, ou quebrariam. Mesmo tendo a possibilidade de imprimir dinheiro, deveriam ter sido mais honestos e humildes, e pedido auxílio externo, em vez de praticar a maior fraude da história. Muito provavelmente receberiam auxílio, não porque o resto do mundo fosse bonzinho, mas sim porque compreendiam que todos afundariam junto, se os EUA quebrassem. A diferença entre pedir auxílio e impor uma decisão arbitrária revelou aspectos importantes sobre o que se pode esperar dos EUA, e de qualquer país que esteja no domínio do planeta.
Mais grave do que a substituição das moedas de valor intrínseco pelas moedas de valor convencionado foi o que ocorreu nas décadas mais recentes. O nível de abstração subiu mais um ou dois degraus, passando aos cartões de crédito e débito, que substituem as cédulas e moedas por dados registrados numa tarja magnética, dados que estão reproduzidos nos registros em microfilmes guardados em bancos e que correspondem a uma certa quantidade de cédulas e moedas físicas que existem materialmente.
Agora surgiram também as moedas virtuais, como Bitcoin, eGold,eBullion etc., que não existem materialmente nem possuem equivalente material, e trazem muitas vantagens e desvantagens. Algumas das vantagens são a redução nos custos de operações, desburocratização, simplificação e agilidade. Algumas das desvantagens são a segurança e a volatilidade. A questão da volatilidade deve se resolver naturalmente com o tempo, à medida que mais usuários aderirem, mas a segurança representa um problema grave, não tanto por questões de fraude, mas principalmente por questões físicas de registro.
Numa conversa recente com o amigo J. A. L. J., ele me disse que cripto moedas não possuem registros físicos (fora de HDs) sobre quem são os proprietários de cada quantidade, portanto se ocorrer uma tempestade magnética como a de 1859, por exemplo, pode-se perder totalmente as informações sobre quem detinha quanto de cada moeda virtual. Todos os computadores do mundo podem ter seus dados apagados por completo, bem como as mídias magnéticas de armazenamento. Só seriam preservados os dados armazenados em mídias ópticas (Blue-Ray, DVD, CD) ou impressas em microfilme e papel. Os bancos, como possuem tais registros, sofreriam um dano menor, mas quem tivesse muito dinheiro em cripto moedas, não teria como comprovar o volume de suas posses.
Claro que um desastre como este afetaria muito mais que apenas bancos. Toda a informação acumulada em computadores seria perdida, além de muitas máquinas serem irreversivelmente danificadas.
Estas tempestades magnéticas se devem ao aumento na atividade solar, que ocorre uma vez a cada 11,2 anos, mas a grande maioria das ejeções solares não aponta precisamente na direção da Terra, por isso os efeitos nas telecomunicações e outros decorrentes desses picos de atividade solar são mais amenos. Porém algumas vezes as protuberâncias solares apontam muito precisamente na direção da Terra, e isso pode acontecer algumas vezes a cada milênio. Em 1989 houve um grande blackout no Canadá causado por um evento deste gênero, e em 1859 aconteceu o mais grave de que se tem registro, desde que Edison e Tesla inventaram os primeiros meios de distribuir eletricidade em larga escala. Se ocorresse agora um evento como o de 1859, o mundo se tornaria um caos em questão de minutos. A excessiva dependência que se criou dos computadores, celulares, satélites de comunicação e GPS, seria profundamente sentida. E quem tivesse grande quantidade de dinheiro em cripto moedas, não teria como comprovar suas posses porque os meios de registros seriam apagados.
Enfim, o conceito atual que se tem sobre dinheiro é baseado na ideia de troca de uma unidade padrão de referência, por mercadorias e bens variados. Durante séculos, a população se manteve aproximadamente estável, bem como a produção de bens. Entre 100 d.C. e 1300 d.C., a população mundial foi basicamente a mesma, em torno de 300 milhões de pessoas. Porém depois da peste negra, depois o início do Renascimento, descoberta da América, depois a Revolução Industrial, o crescimento populacional se tornou cada vez mais rápido, e o ritmo de produção de bens e mercadorias também variou conforme a extração de ouro na América, novas tecnologias de mineração etc.
Apesar de todas estas mudanças, em média as mercadorias conservaram aproximada paridade quando comparadas entre si, mas as moedas se tornaram cada vez mais voláteis.
Na Hungria, depois de segunda guerra mundial, a inflação chegou patamares sem precedentes na história. Até o século XIX, toda a inflação acumulada desde os primórdios da história, era menor do que apenas 1 semana de inflação na Hungria. Foi a partir deste ponto que se começou a sentir mais nitidamente a vulnerabilidade do sistema financeiro baseado em unidades monetárias sem valor intrínseco. No meio de uma guerra, as pessoas querem água e comida, querem abrigo, cobertores, medicamentos, e pagam o que for preciso por estes itens, de modo que o dinheiro acaba não valendo quase nada, enquanto os bens com valor intrínseco acabam tendo seu valor real restabelecido em comparação a papel colorido chamado “dinheiro”.
A crise de 2008 também mostrou a fragilidade de um sistema financeiro baseado em valores simbólicos, e mais ainda quando um único país detém o super poder de imprimir mais papel e declarar que este papel tem valor. Antes de 2008, havia limites e normas que eram respeitadas sobre a impressão de dinheiro. Depois do suprime, jogou-se no lixo a ética e o bom senso, e os EUA literalmente roubaram o resto do mundo em 1 trilhão de dólares. A partir do momento que colocou em circulação este dinheiro, automaticamente desvalorizou cada cédula e cada moeda de cada pessoa que possuía.
Portanto quando se fala em ganhos nominais, se está lidando com uma ilusão coletiva. Os títulos crédito que a Eletrobrás emitiu desde 1964, por exemplo, supostamente tinham um certo valor que seria devolvido aos credores, no entanto o governo deu um calote de bilhões, legalizou o calote e ainda declarou que os títulos da dívida eram “podres”, impossibilitando que os credores recebessem de volta o dinheiro que lhes foi tomado. Também foi assim com títulos da Petrobrás, da Vale, com títulos da dívida pública e documentos desde a época do Império. Mesmo assim ainda há pessoas que confiam alegremente que os títulos do tesouro são seguros. Talvez títulos do tesouro na Suíça, onde a população e o governo são honestos, sejam seguros. Mas em outros países, a credibilidade e o valor de títulos do tesouro depende muito da credibilidade que se atribui a cada governo.
O que se pode inferir de tudo isso é que a esmagadora maioria das aplicações no Brasil resultam em prejuízos reais, enquanto a pessoa se ilude com pequenos ganhos nominais. Algumas poucas aplicações, como Hedging Griffo Verde, do segundo melhor gestor do Brasil, chegam a render um pequeno lucro real, depois de descontar inflação, taxas e impostos, mas mesmo estas aplicações não resistem aos períodos de hiperinflação, porque a cobrança de impostos sobre ganho de capital em cima dos lucros nominais exige que os ganhos reais sejam de no mínimo 15% ao ano para que não haja prejuízo após descontar impostos. Mas se é assim, não existe uma maneira de obter ganhos reais? Não existe nenhuma boa aplicação em que se possa colocar o dinheiro e ter algum ganho consistente real a longo prazo? A resposta pode estar diante do seu nariz.
Apêndice:
Um pouco mais sobre P-V e RMS no erro das superfícies ópticas de telescópios
Há basicamente 3 tipos de designs ópticos de telescópios: os catóptricos, os dióptricos e os catadióptricos. Os dióptricos, mais popularmente conhecidos como “refratores” ou “lunetas”, se baseiam nos desvios dos raios de luz que atravessam uma ou mais superfícies transparentes ou translúcidas. São os casos mais comuns e mais antigos, como o primeiro telescópio construído por Galileu, em 1609. Utilizam uma lente simples ou composta (a objetiva), que coleta uma grande quantidade de luz, proporcional à área de uma das faces desta lente, e direciona esta luz para um mesmo ponto, o foco.
Depois de atravessar o foco, os raios de luz divergem, formando um ângulo sólido que produz uma imagem invertida, porque os raios que chegaram da direita, ao atravessar o foco projetarão o lado esquerdo da imagem e vice-versa, enquanto os raios que vieram de cima, ao atravessar o foco projetarão o lado de baixo da imagem e vice-versa. Em seguida, um outro dispositivo óptico, a ocular, recebe este cone de luz e transmite a imagem final até o olho, que atravessa a pupila, inverte novamente a imagem antes de chegar à retina, e esta transmite ao córtex cerebral, que interpreta as imagens invertidas como se estivessem orientadas “corretamente”.
Convém notar que a inversão da imagem se dá ao atravessar o foco ou um orifício pequeno, como a pupila. Não há necessidade de uma lente (córnea, cristalino e vítreo) para que a imagem seja invertida. Isso pode ser facilmente verificado em câmeras pinhole, que não usam lente, além de ser demonstrado geometricamente. A função da lente não é necessariamente inverter a imagem. Superfícies convexas, por exemplo, não invertem a imagem. Basta olhar sua imagem refletida dentro e fora de uma colher para perceber esse efeito.
A curvatura interna da colher é côncava, e por aproximação grosseira quase poderia ser considerada uma capa de esfera ou de elipsoide, de modo que os raios de luz que vieram do Sol (ou lâmpada) e incidiram sobre seu rosto, uma parte foi absorvida por seu rosto na forma de calor, e outra parte será refletida por seu rosto e incidirá sobre esta superfície da colher, que por sua vez refletirá estes raios conforme o ângulo de incidência em cada ponto da superfície da colher, e isso fará os raios convergirem quase para um ponto, situado na região que seria o centro do raio de curvatura da colher, e depois de atravessar este ponto, os raios começam a divergir, porém agora invertidos, pelos motivos descritos no segundo parágrafo azul. Por isso a imagem do seu rosto refletida na parte interna da colher fica invertida.
Mas ao olhar sua imagem refletida na parte de trás da colher, que é uma superfície convexa, os raios de luz que incidem sobre esta superfície não vão convergir para foco nenhum, pois o foco desta curva está do outro lado, e a colher é opaca. Então estes raios vão divergir desde que atingem a superfície, sem passar pelo foco e sem inverter, por isso sua imagem refletida no dorso da colher não é invertida.
Se a colher fosse trocada por uma lente, então parte da luz que atinge a superfície convexa seria refletida e parte atravessaria e chegaria do outro lado. Para um observador situado do outro lado da colher, depois do foco, sua imagem chegaria invertida para ele, e ele também veria a própria imagem dele invertida, enquanto você veria sua própria imagem sem inverter e você também receberia a imagem dele do outro lado sem inverter.
Quando não existem lentes, isto é, sem superfícies curvas que desviem os raios de luz, então o efeito é análogo, porém a imagem é gerada pelos raios convergentes, que atravessam o orifício de modo que os raios que vieram de cima seguirão descendo e projetarão a imagem do lado de baixo etc., portanto será invertida. Quando há lentes, a imagem é predominantemente gerada pelos raios paralelos e quase paralelos, portanto a imagem pode ser invertida ou não, dependendo de se a curvatura é côncava ou convexa, e no caso de ser côncava depende de o observador estar antes ou depois do foco.
O sistema óptico constituído por objetiva e ocular é o mais simples necessário para compor um telescópio, ou monóculo, ou luneta, mas pode haver outros elementos envolvidos. Entre a ocular e a objetiva, pode haver uma lente Barlow ou Powermate, ou uma lente relay, que servem para aumentar o ângulo sólido do cone de luz, gerando a sensação de produzir uma ampliação maior quando a imagem chega ao olho. Ou pode haver um redutor focal, cujo nome é impróprio, porque ele não reduz a distância focal, pois isso seria impossível pela localização em que este elemento é inserido. Ele só afetaria a distância focal se fosse posicionado entre a objetiva e o foco. Como ele é colocado entre o foco e a ocular, o efeito que ele produz é oposto ao da Barlow, ele reduz o ângulo sólido do cone de luz, gerando a sensação de produzir uma ampliação menor, ou seja, ao reduzir a imagem, ele aumenta o campo visual (FOV).
Uma Barlow (e inversamente um redutor focal) tem algumas propriedades equivalentes às do aumento da distância focal (ou redução no caso do redutor), mas não é exatamente o mesmo. Por exemplo: quando se aumenta a distância focal, mantendo inalterado o diâmetro da objetiva, isso reduz o ângulo sólido e reduz também a aberração cromática, já que o intervalo angular dentro do qual a luz se decompõe fica mais estreito. Mas quando se usa um redutor focal, não se produz este efeito, porque durante todo o trajeto, desde a objetiva até chegar ao redutor focal, o ângulo sólido foi o mesmo (não houve redução angular no cone de luz), atravessou o foco, e depois que isso aconteceu, já houve degradação na nitidez, porque o foco para comprimentos de onda diferentes não foi o mesmo. A partir daí, há uma degradação imanente à imagem, que implica perda de informação, e isso não pode mais ser corrigido pela adição de elementos óticos depois deste ponto. Pode-se voltar a alargar ou estreitar o cone de luz, porém não pode ser restabelecida a nitidez perdida depois de atravessar os focos diferentes para cada comprimento de onda.
Também pode haver um eretor, que apesar do nome não é um artigo erótico. É um corretor de orientação que desinverte completamente a imagem antes de chegar à ocular, de modo que quando a imagem chega ao olho, a orientação da imagem está correta. E pode haver um prisma ou diagonal, que desinverte parcialmente a imagem (em 1 dos eixos). O prisma também oferece algumas facilidades ergonômicas, nos casos em que o posicionamento do olho ficaria desconfortável, pois o prisma redireciona a imagem num ângulo que pode ser 45° ou 90° (entre outros) em relação ao eixo-óptico principal do instrumento.
Quando a luz atravessa cada lente, ela sofre uma pequena reflexão, uma pequena absorção, uma pequena difração e uma pequena refração. A refração é diferente para diferentes comprimentos de onda, por isso a luz policromática (*), ao atravessar a lente, abre um leque de cores, como um arco-íris, porque a luz violeta sofre uma refração menor que a luz azul, e esta sofre uma refração menor que a verde, e esta menor que a amarela etc., até no outro extremo a luz vermelha, que sofre a maior refração entre os comprimentos de onda no intervalo visível. O resultado disso é um fenômeno conhecido como “aberração cromática”, que deixa uma das bordas da imagem azulada e a borda oposta avermelhada, comprometendo a nitidez e a qualidade geral da imagem, porque se os raios de luz de comprimentos de onda diferentes sofrem desvios em ângulos diferentes ao atravessar a lente, então não convergirão todos para o mesmo foco, resultando numa imagem intrinsecamente desfocada.
(*) geralmente se usa o termo “luz branca”, que acho impróprio. O mais correto, a meu ver, é “policromática”, em oposição ao termo “luz monocromática”, e principalmente porque a “luz branca” é uma ilusão decorrente da presença combinada de todas as cores (policromia), e o preto é decorrente da absorção, ou subtração, de todas as cores.
Essa diferença entre o índice de refração do violeta para o vermelho varia de um material para outro. Em vidro “comum”, a luz vermelha tem índice de refração 1,542 e a luz violeta 1,523. Na água a 30°C a luz vermelha tem índice de refração 1,344 e a luz violeta 1,331. Por isso os melhores telescópios procuram se valer de dois métodos para minimizar a aberração cromática. Um deles é utilizar materiais nos quais a diferença entre o índice de refração do vermelho para o violeta seja menor, como a empresa japonesa Vixen, que produz oculares Lantanum. E outro procedimento, mais barato e mais eficiente, consiste em usar lentes corretivas coladas umas nas outras, de modo que a segunda lente corrige parte da aberração da primeira, a terceira lente corrija parte do resíduo de aberração que não chegou a ser inteiramente corrigido pela segunda, e a quarta corrige parte do resíduo que não chegou a ser inteiramente corrigido pela terceira.
Quanto mais lentes, melhor a correção. Um telescópio dubleto, ou acromático, já consegue melhorar substancialmente a imagem. Um tripleto, ou apocromático, elimina quase totalmente a aberração, e só olhos muito bem treinados conseguem notar algum resquício de aberração. Um quadripleto ou superacromático elimina a aberração dentro dos limites que o olho humano conseguiria sentir.
Não há como corrigir totalmente a aberração cromática, não importa quantas lentes sejam adicionadas, porque isso exigiria que a distribuição dos diferentes índices de refração para diferentes comprimentos de onda fosse a mesma em todos os materiais, o que não acontece. Por isso ao corrigir a diferença do vermelho para o azul, acaba-se distorcendo um pouco a diferença do verde para azul, do amarelo para o vermelho etc. E quando se faz a segunda correção, se introduz outras distorções, e assim sucessivamente. Então o melhor que se consegue é minimizar a aberração até um nível em que o olho humano não seja capaz de sentir o efeito de aberração residual depois de aplicadas todas as correções.
Também não faz sentido usar muito mais que 4 lentes coladas, porque o custo operacional para produzir estas lentes cresce muito rápido. Um dubleto de 60 mm da Meade custa nos EUA US$ 24,00 (e no Brasil R$ 1.600,00 num shopping). Um tripleto de 60 mm da Meado custa US$ 500 nos EUA e não se comercializa no Brasil, exceto sob encomenda. Um quadripleto não é fabricado pela Meado, que importa mão de obra chinesa, e não tem tecnologia adequada para isso. Quadripletos são produzidos por poucas empresas russas, alemãs e japonesas. Algumas empresas, como a Orion, produzem também pseudo tripletos espaçados a ar ou a óleo, que são inferiores aos tripletos sólidos, mas são superiores aos dubletos.
Além da aberração cromática, há outros problemas. Um deles é a transparência. Quanto mais espessa for a camada de lentes, maior será a absorção e menor será a quantidade final de luz que chegará à retina. Portanto os quadripletos precisam usar materiais muito transparentes e muito finos, para que não haja muita perda por absorção.
Outro problema é a curvatura das lentes ou espelhos. Para que todos os raios de luz incidentes na superfície externa da objetiva possam ser direcionados precisamente para o mesmo ponto, o foco, é necessário que a curvatura da superfície da lente seja muito aderente à uma capa de hiperboloide, porém o movimento natural de polimento (artesanal) de lentes (ou espelhos, no caso dos catóptricos) produz uma curvatura mais aderente a uma capa de esfera. Então há a opção de deixar assim e produzir um efeito de aberração esférica, ou corrigir a curvatura por diferentes métodos. Um espelho com curvatura aderente a uma capa de esfera custa cerca de 10 vezes mais barato que um espelho de mesmo tamanho com curvatura aderente a uma capa de hiperboloide, porque o segundo requer muito mais tempo, um nível tecnológico superior e uma habilidade artesanal superior.
Há também a heterogeneidade da substância, que faz com que um mesmo material não tenha exatamente mesmo índice de refração em toda sua extensão, de modo que ao penetrar nos primeiros micrômetros do vidro da lente, a luz pode sofrer uma refração ligeiramente diferente da que sofrerá nos micrômetros seguintes, e assim sucessivamente, até sair pelo outro lado da lente, o que introduz um pequeno ruído no resultado final da imagem. Isso pode ser minimizado por sucessivas purificações e homogeneizações do material a ser usado na lente.
Por fim, há as irregularidades locais, em diferentes pontos da superfície óptica, que a tornam destoante da curva ideal que seria esperada para uma capa de hiperboloide (ou mesmo de esfera). A medida destas irregularidades é um dos indicativos mais importantes sobre a qualidade óptica de um telescópio, e se faz por meio de uma interferometria, que é uma varredura comparativa entre a topologia real observada na superfície óptica do espelho ou da lente em comparação à curva ideal que ela deveria ter. Pode-se medir a soma dos quadrados dos erros, ou a soma dos erros absolutos, ou o erro máximo, ou a média dos maiores erros, ou alguma combinação destas medidas.
O erro RMS (Root Mean Square) é determinado pela raiz quadrada da média aritmética da soma dos quadrados dos erros observados, ao passo que o erro pico-ao-vale (P-V) considera apenas o maior erro, e são as duas medidas mais usuais.
A interferometria pode ser com base em algumas dezenas, centenas ou milhares de pontos de referência, bem como pode ser baseada em luz quase monocromática (laser), de um comprimento de onda específico, ou pode usar vários comprimentos de onda diferentes. Quanto mais pontos de referência forem usados na interferometria, maior será a probabilidade de encontrar um erro P-V muito grande. Em contrapartida, a magnitude da medida RMS não é afetada sensivelmente pelo número de pontos varridos na interferometria, o que faz da medida RMS mais robusta a tentativas de exagerar a informação sobre a qualidade do instrumento.
Só a incerteza na medida do erro RMS é que inevitavelmente é influenciada pelo número de pontos varridos pela interferometria. Mas no caso do erro P-V, tanto a incerteza na medida quanto a própria medida são influenciados pelo número de pontos considerados na varredura.
Estas irregularidades na superfície da lente ou espelho implicam desvios nas trajetórias dos raios de luz incidentes em cada ponto da superfície óptica, resultando em imagens menos nítidas. De modo geral, considera-se que o limite tolerável para o erro P-V seja aproximadamente metade do comprimento de onda da luz verde, ou cerca de 270 nm ou Lambda/2 ou simplesmente L/2. Os melhores telescópios industrializados refletores chegam a L/10 e os melhores artesanais (como o Zambuto) chegam a L/20. Os melhores refratores, como Zeiss e Astrophysics, chegam a L/20. Algumas marcas chinesas, como GSO, alegam ter erro óptico L/12 P-V, mas na verdade estão perto de L/2.
Então RMS representa a medida de todas as diferenças observadas entre a curva ideal de referência e a curva real da superfície óptica que se deseja avaliar. A medida P-V representa a diferença máxima observada entre a curva ideal e a curva real, para um determinado número de observações de pontos da superfície que se deseja avaliar. Como a medida P-V é fortemente influenciada pelo número de pontos observados, acaba não sendo uma informação muito segura, se for usada para apontar alta qualidade do produto, pois essa pretensa alta qualidade poderia decorrer da pequena quantidade de pontos considerados na varredura, sendo esta varredura insuficientemente abrangente para detectar anomalias graves na superfície. No entanto a medida P-V, mesmo baseada em poucos pontos, é válida quando indica um grave anomalia na superfície. Se a interferometria for baseada numa quantidade de pontos suficientemente grande, e estes pontos estiverem adequadamente distribuídos ao longo da superfície, de modo a minimizar o risco de alguma irregularidade grave passar despercebida, então a medida P-V é comparável à RMS, em credibilidade e utilidade.
Os telescópios catóptricos se baseiam no desvio dos raios de luz produzido por superfícies reflexivas. Os catóptricos também são popularmente conhecidos como refletores ou newtonianos (porque foi inventado por Newton). São telescópios cujo elemento principal é um espelho, chamado “primário”, que fica no fundo do tubo óptico, e dentro do tubo, perto da outra extremidade (da abertura), há outro espelho, o “secundário”. O princípio geométrico de trajetórias da luz é basicamente o mesmo dos dióptricos, exceto pelo fato de refletirem a luz, em vez de refratá-la. Com isso, elimina-se os problemas de aberração cromática, que decorrem da refração diferente para diferentes comprimentos de onda.
Mas nos refletores surgem outros problemas. Um deles é que grande parte da luz é absorvida, geralmente entre 15% a 8% em cada espelho. Há espelhos dielétricos com absorção menor que 3% e até menor que 1%, porém o custo que se tem para ter superfícies mais reflexivas acaba não compensando em comparação ao custo de produzir primários maiores, capazes de captar mais luz. Na época de Herschel, quando os espelhos eram bem menos eficientes que os atuais, com absorção acima de 30%, ele minimizava a perda de luz colocando o primário ligeiramente inclinado no tubo, de modo a dispensar a presença do secundário.
Os espelhos primários também são curvas aderentes a capas de hiperboloides, paraboloides ou esferas. Os secundários são planos. Há instrumentos que usam secundários curvos para compensar a aberração esférica dos primários quando a luz é refletida nos secundários.
Outro problema com os refletores são as obstruções (aranha e suporte do secundário) presentes no interior do tubo, necessárias para suportar o espelho secundário. Estas obstruções se tornam quase imperceptíveis quando se observa objetos distantes, já que o foco fica muito diferente do que seria necessário para que estas estruturas internas produzissem efeito sensível, mas ao observar objetos próximos, a presença das obstruções pode comprometer a qualidade das imagens. Há também alguns refletores com um espelho terciário, mas são casos raros, inclusive porque a presença deste terceiro elemento dificulta a colimação.
A colimação consiste em alinhar tão perfeitamente quanto possível todas as superfícies ópticas, deixando-as perpendiculares ao eixo óptico, ou deixando o plano que tangencia o centro (quando esta é curva) de cada elemento óptico perpendicular ao eixo óptico.
Os catadióptricos são combinações de dióptricos e catóptricos, isto é, usam lentes e espelhos. Os designs ópticos mais comuns de catadióptricos são Cassegrain (comum em muitas marcas), Maksutov-Cassegrain (comum na Meade e Lomo), Ritchey-Chrétien (comum na Meade), Dall-Kirkham (comum na Takahashi). Os diferentes designs ópticos tentam corrigir, por diferentes métodos, as aberrações cromática e esférica.
Em todos os instrumentos ópticos, a medida de erro RMS e P-V nas superfícies ópticas tem a mesma finalidade, de avaliar o nível de distorção na imagem final.