11 erros cometidos por quem segue conselhos de pessoas bilionárias
Dando prosseguimento à nossa série, vamos analisar o segundo erro que as pessoas geralmente cometem.
No filme “Em busca da felicidade”, Will Smith interpreta um personagem baseado na vida real de Chris Gardner. Há um momento no filme no qual Smith vê um homem descer de um carro de luxo e pergunta a esse homem em que ele trabalha. A intenção de Smith é imitar o que esse homem faz na expectativa de obter resultados semelhantes. Esse é um erro grave e muito comum, e será o tema desse artigo.
Para compreender bem esse erro, podemos começar analisando 3 exemplos óbvios e 3 outros exemplos que não são óbvios:
1. Shaquille O’Neal
2. Mike Tyson
3. Pelé
4. Einstein
5. Elon Musk
6. Bill Gates
Os três primeiros alcançaram grande sucesso financeiro em suas áreas de atuação, mas seria um erro muito grande acreditar que, fazendo o mesmo que eles, obter-se-ia resultados semelhantes. O exemplo mais fácil de compreender é o de O’Neal, com 2,16 m de altura, percebe-se que ele possui alguns atributos muito fora do normal, muito raros, e que proporcionam a ele uma vantagem competitiva imensa para determinadas atividades.
Pessoas que não possuem esses atributos não teriam as mesmas vantagens competitivas que ele e, consequentemente, não teriam mesmo sucesso.
Não é apenas a altura que torna O’Neal um sucesso excepcional no Basquete, mas a altura é a característica mais fácil de enxergar.
Além da altura, ele também possui uma coordenação motora excepcional, velocidade muito acima da média e uma lista de outros atributos que, combinados, resultam na habilidade dele para o Basquete.
A coordenação motora não é visível se ele não estiver em ação, mas quando o observamos em campo, podemos enxergar claramente essa característica. Há algumas características que não se tornam visíveis nem mesmo quando ele está em ação.
Outro exemplo é Tyson, cujos diferenciais são menos visíveis, porque parte de sua força e sua técnica não estão bem representadas por sua aparência. Claro que ele tem aparência de ser muito forte e de ser bom lutador, mas há pessoas que parecem ser mais fortes do que ele e melhores lutadores, mas não são. A aparência física dele não reflete todo o potencial dele como lutador, reflete apenas uma pequena parte. Há milhares de pessoas que aparentam ser muito mais fortes e melhores lutares do que Tyson, porém não são.
Se comparar a aparência de Tyson com a de Schwarzenegger, tem-se a impressão enganosa de que Schwarzenegger venceria, se eles tivessem que lutar, mas o fato é que provavelmente Schwarzenegger seria nocauteado em poucos segundos. Isso ficou claro no caso de Popó contra Bambam. Com base na aparência de cada um, poderia parecer que Bambam era o favorito. Claro que conhecendo o histórico de cada um, pode-se deduzir um resultado diferente, mas com base exclusivamente na aparência, Bambam pareceria o favorito.
Isso deixa claro que mesmo nos casos de atributos físicos, geralmente a aparência não reflete inteiramente e corretamente a habilidade da pessoa. Quando se trata de atributos mentais, torna-se ainda mais difícil estimar a habilidade com base na aparência, inclusive com a pessoa em ação, porque acima de certo nível, a habilidade só pode ser fielmente expressa em atividades muito específicas e incomuns. Veremos mais detalhadamente isso logo adiante, ao tratar do caso de Einstein.
O importante aqui é compreender que certas características associadas à competência não são visíveis, ou são visíveis apenas parcialmente e não refletem completamente, na proporção justa, a magnitude do diferencial. Isso faz com que muitas pessoas olhem para alguém que obteve um sucesso extraordinário em determinada atividade e pensem que poderiam alcançar sucesso semelhante se fizessem (ou tentasse fazer) a mesma coisa.
Nos investimentos isso é muito comum, e essa ilusão é alimentada por muitos, porque é conveniente para bancos, corretoras, vendedores de cursos, autores de livros, “influencers” etc. Se as pessoas tivessem autocrítica e autoconhecimento, compreenderiam que não podem ganhar operando no Mercado Financeiro da mesma forma que não podem ganhar dinheiro lutado Boxe ou jogando Futebol. Certamente algumas podem, mas a grande maioria não, e o número de pessoas com habilidade suficiente para ganhar dinheiro com Boxe ou Futebol é muitíssimo maior do que o número de pessoas com habilidade suficiente para ganhar com investimentos. No Brasil há milhares de pessoas que vivem do que ganham com Futebol, mas menos de 10 que vivem com o que ganham por meio de operações no Mercado Financeiro.
Essa dificuldade das pessoas em enxergar certos atributos as leva a fazer avaliações completamente distorcidas sobre as outras pessoas e sobre si mesmas, resultando em erros muito graves, que pode custar a elas sérios prejuízos.
Nos dois primeiros exemplos que analisamos, de O’Neal e Tyson, não é tão difícil perceber, pela aparência, que eles são pessoas muito diferenciadas, embora a aparência não reflita inteiramente a magnitude da diferenciação. Ambos são muito mais notáveis em suas especialidades do que suas aparências sugerem. Mas na maioria das atividades, especialmente nas atividades intelectuais, é mais difícil ainda perceber os diferenciais.
Antes de analisar os casos intelectuais, vejamos mais um exemplo de atributos físicos excepcionais: o caso de Pelé. Olhando para ele, não se percebe nenhuma diferença marcante que possa indicar o fenômeno que ele foi. A aparência do Pelé era de uma pessoa comum, mas ele foi uma pessoa muito fora do normal.
As pessoas geralmente não entendem o que elas não enxergam, e como o Pelé não possuía características visíveis que indicassem o quão extraordinário e diferente ele era, muitas pessoas achavam que bastava muito treino e vontade para ser como ele. As pessoas olhando para O’Neal percebem facilmente que não adiantaria treinar ou ter força de vontade para ser como ele. Elas precisariam nascer de novo, e nascer bilhões de vezes até que em algum desses nascimentos tivessem uma probabilidade razoável de ter uma genética equivalente à dele, e então sim, com muito treinamento poderiam obter resultados semelhantes.
Cada pessoa precisa identificar suas próprias aptidões e planejar como usar essas aptidões para alcançar seus objetivos, sejam financeiros, educacionais, sociais, espirituais etc. Esse tema será retomado com mais profundidade logo adiante. Antes precisamos concluir a análise, para que se possa compreender corretamente toda essa situação.
Muitos achavam que o filho do Pelé se tornaria tão bom quanto o pai ou até melhor, porque teve condições financeiras melhores, teve o pai que o ensinou e outras vantagens que o pai não teve, porém as pessoas não enxergam a importante desvantagem que é invisível: a genética do filho continha apenas cerca de 50% dos genes do Pelé, cerca de 50% de genes aproximadamente normais e uma pequena fração (menor que 1%) de mutação. Com 50% dos genes do Pelé, mais o treinamento, ele conseguiu se tornar um jogador muito acima da média, mas nem de longe chegou ao mesmo nível do Pelé.
Tudo isso se aplica a outros grandes futebolistas. A habilidade especial que eles possuem não é visível, exceto quando estão em campo. E mesmo em campo, se a pessoa não tiver muito conhecimento sobre a modalidade, acaba não percebendo sutilezas importantes que distinguem um jogador do nível do Pelé de um jogador do nível de um campeão de bairro.
Agora vamos passar aos 3 exemplos menos óbvios, que são os que mais nos interessam, porque estão mais estreitamente relacionados ao que precisamos compreender sobre o Mercado Financeiro e sobre pessoas bilionárias:
4. Einstein
5. Elon Musk
6. Bill Gates
Os três exemplos anteriores eram semelhantes entre si, todos possuíam/possuem certos talentos excepcionalmente desenvolvidos e extremamente raros, no nível de raridade de 1 em 1 bilhão ou acima, para alguma modalidade específica. Graças a esses talentos, alcançaram posições de grande destaque e tiveram grande sucesso em suas especialidades.
É bastante óbvio que se outra pessoa aleatória decidisse seguir a carreira de boxeador, futebolista ou jogador de basquete, que teria baixíssima probabilidade de conseguir sequer se profissionalizar, quanto menos conseguir chegar ao mesmo patamar de sucesso que eles alcançaram. A razão disso é muito simples: não é o Boxe, o Futebol ou o Basquete que constituem áreas de atuação especialmente promissoras e lucrativas, mas sim essas pessoas que tinham ou têm talentos especiais para alcançar sucesso nessas áreas específicas.
Por isso seria um grande erro a pessoa pensar “ah, eu vou ser lutador de Boxe porque Tyson ficou rico lutando Boxe”. É necessário compreender que o Boxe funcionou para ele, porque se harmonizava com o conjunto de aptidões dele e porque ele estava num nível de raridade no topo mundial de habilidade para essa atividade. Geralmente as pessoas conseguem enxergar e compreender bem isso, porém não enxergam tão bem nem tão facilmente nos casos de Einstein, Musk e Gates. Além disso, esses 3 casos não são equivalentes aos 3 anteriores. Esses 3 são muito diferentes entre si.
Einstein tinha um talento num nível de 1 em 10.000.000.000 ou acima disso, enquanto Musk e Gates possuem talentos num nível perto de 1 em 10.000. Einstein era pobre, Gates era de classe média e Musk nasceu rico. Einstein nunca teve como objetivo de vida ganhar muito dinheiro ou ter poder, seus objetivos eram outros, ele queria compreender como o mundo funciona além dos limites do que se compreendia até sua época, e nesse aspecto foi muitíssimo mais bem sucedido do que Musk, Gates, Bezos, Zuck, Sergey e Jobs somados. Se Einstein tivesse como objetivo de vida ser muito rico e se dedicasse a isso, possivelmente teria chegado a ser o mais rico da história.
Musk e Gates também não tinham como objetivo direto e principal ganhar muito dinheiro, mas estavam envolvidos com atividades que conduziam a esses resultados. Há diferenças importantes entre Musk e Gates, porque Musk desde o início concebeu vários projetos revolucionários, enquanto Gates seguiu a correnteza de uma moda emergente, sendo pioneiro em sua área e sendo favorecido pela sorte em vários aspectos. Grande parte do sucesso de Gates se deve a Jobs e Wozniak, que ele conheceu na adolescência e desempenharam papéis muito importantes nos rumos que sua vida tomou.
Houve episódios na vida de Gates em que o rumo tomado poderia ser x ou y, onde x o levaria a se tornar um empresário de sucesso médio, enquanto y o tornaria na pessoa mais rica do mundo, e não foram decisões inteligentes ou sábias que o conduziram às decisões y. Muitas vezes nem foram decisões dele, mas outras pessoas tomaram decisões que o forçaram a seguir o caminho y. Outras vezes ele tomou as decisões x, mas o destino acabou revertendo essas decisões e o reconduzindo ao caminho y, contra a vontade dele.
Gates, diferentemente de Einstein, não é um grande gênio dos negócios, da ciência ou da computação. Gates é uma pessoa muito inteligente que teve muita sorte de estar nos lugares “certos”, nos momentos “certos”, com as pessoas “certas”, e ter sido empurrado pelo destino para o caminho “certo”. Na mesma época, havia milhares de outros jovens com talento semelhante ou maior do que o dele, mas que não tiveram contatos com as pessoas certas e por isso não alcançaram o mesmo sucesso.
O caso de Musk é diferente. Embora Musk não seja tão inteligente quanto foi Einstein, ele é suficientemente inteligente para compreender a importância de contratar pessoas inteligentes, formando um exército de colaboradores brilhantes, capazes de resolver problemas que ele não resolveria, mas que ele poderia pagar para que resolvessem, pagar muito menos do que valiam essas soluções, e ficar com a diferença para si. Gates, Bezos, Zuck, Larry e outros também compreenderam a importância de contratar os mais inteligentes, mas Musk se distingue de todos eles pela maneira como direcionou o potencial dessas pessoas talentosas para a realização de algo grandioso.
Zuck subvalorizou imensamente o potencial das pessoas brilhantes que trabalham para ele, desperdiçando esses talentos com produtos triviais de redes sociais; Gates subvalorizou o potencial das pessoas brilhantes que trabalham para ele, desperdiçando esses talentos com produtos que não trazem inovações relevantes para o bem comum, enquanto Musk compreendeu a importância de focar na resolução de problemas muito difíceis e revolucionários, e colocou desafios adequados para as pessoas que trabalham para ele, explorando esses talentos para mudar o mundo. Steve Jobs tinha o discurso de “mudar o mundo”, mas quem de fato tem mudado o mundo é Musk. Claro que Jobs mudou um pouco, mas não se compara às transformações promovidas por Musk.
Não há diferenças marcantes em nível intelectual entre Musk, Gates, Jobs, Zuck, Bezos, Sergey, Larry, mas Musk é muito mais criativo e percebe melhor qual é a forma correta de aplicar o potencial das pessoas mais inteligentes que trabalham para ele. Claro que Gates e outros também percebem isso, porém eles começaram a ter sucesso por determinado caminho e seguiram pelos respectivos caminhos que estavam dando resultados, e só muito depois é que começaram a ampliar o leque de atuação de suas empresas, enquanto Musk, desde o início, já colocou as pessoas brilhantes para trabalhar em projetos revolucionários, e construiu seu império baseado nisso, enquanto os outros só começaram a focar em inovações revolucionárias depois que já haviam acumulado bom patrimônio atuando em outros setores.
Portanto há algumas diferenças importantes entre os casos de Musk e Gates, embora haja também semelhanças importantes.
E o ponto que nos interessa aqui é que não foi a área de atuação escolhida por cada um deles que os levou aonde chegaram. Foi uma combinação complexa de muitos fatores, alguns planejados, outros aleatórios, que os conduziram. E mais importante do que isso é que na mesma época em que Gates estava começando, muitos outros jovens em situação muito semelhante à dele, com talento semelhante, com interesses semelhantes, com objetivos semelhantes, também estavam fazendo quase o mesmo que ele, mas a grande maioria desses “clones” de Gates não chegaram nem perto do nível de sucesso que ele teve simplesmente por sorte. A população dos EUA no início dos anos 1970 era cerca de 200 milhões, e com 155 a 160 de QI Gates estava no nível de raridade de 1 em 3.000 a 1 em 10.000. Isso significa que havia nos EUA 20.000 pessoas a 60.000 pessoas com talento semelhante ao dele naquela época, muitos dos quais estavam envolvidos com Ciência da computação, que era uma "moda" emergente entre nerds daquela época. Os diferentes caminhos dos vários “clones” de Gates são como processos de Wiener. Esse fenômeno é analisado com muito mais detalhes em meus livros, artigos e vídeos.
Não é porque Gates era mais talentoso, ou tenha tomado melhores decisões do que seus “clones”, que ele chegou a ser o mais rico do mundo. É por sorte combinada a outros fatores. Claro que se ele tivesse apenas sorte, não teria feito quase nada do que fez. Seria um erro pensar que o sucesso de Gates é exclusivamente fruto da sorte, mas seria também um erro grave pensar que o sucesso dele é fruto de méritos excepcionais. Claro que ele teve méritos, mas não foram méritos maiores do que os milhares de outros jovens com talento e esforço similar ao dele, que acabaram tendo destinos muito diferentes do dele.
No caso de Musk, o fator sorte teve um peso muito menor. Ele de fato construiu seu destino, embora também possa ter sido favorecido pela sorte em alguns momentos, e prejudicado pelo azar em outros momentos, mas a maneira como ele tem conduzido seus empreendimentos caminha naturalmente para onde ele chegou. Na época em que Musk começou, não havia outros jovens que reunissem as mesmas condições (recursos financeiros, capacidade intelectual e ideias tão originais). Certamente havia vários com recursos financeiros e capacidade intelectual, mas apenas ele tinha as ideias suficientemente originais para chegar onde chegou. Claro que havia também muitos outros com capacidade intelectual e ideias muito originais, mas faltavam-lhes os recursos financeiros.
Depois dessa breve análise sobre esses 6 exemplos, podemos agora compreender em que consiste o erro que vamos tratar nesse artigo. Quando uma pessoa observa o sucesso de alguém e tenta repetir o que a pessoa fez ou faz, na expectativa de obter resultados semelhantes, como fez o personagem de Will Smith no filme, é importante compreender alguns dos elementos fundamentais sobre o contexto.
No caso de Gates, é muito mais difícil reproduzir o que ele fez porque foi uma época que já passou. Só em outro planeta no qual a civilização estivesse num estágio semelhante ao da Terra nos anos 1970, ou se toda a nossa civilização tecnológica fosse destruída e precisasse ser reconstruída, é que se repetiriam condições parecidas com as que ele teve nos anos 1970. Sem essas condições, seria muito difícil fazer o que ele fez e obter resultados semelhantes aos dele. Mas mesmo para as pessoas que viveram na mesma época que ele, não bastaria fazer o que ele fez, pois vários fizeram, mas não tiveram resultados semelhantes. O fator sorte teve um peso muito grande nesse caso.
Nos casos mais frequentemente anunciados na Internet, sobre pessoas ganhando muito com dropshipping, com daytrading, com qualquer outra história milagrosa, é importante, em primeiro lugar, identificar quais alegações são verdadeiras. Em seguida, analisar quais atributos presentes nessas pessoas são semelhantes a atributos que você mesmo possui, que poderiam lhe permitir obter resultados semelhantes.
Ao fazer essa análise é fundamental não ser prepotente nem modesto, é necessário ter uma visão realista de si mesmo. Precisa identificar seus pontos fortes e tentar encontrar exemplos de pessoas que tenham pontos fortes semelhantes aos seus, para tomar essas pessoas como referência. Precisa considerar também aspectos extrínsecos às pessoas, como tamanho das redes sociais, condições financeiras iniciais, rede de contatos e outros itens importantes para o setor no qual ela atua, para julgar corretamente se você teria resultados semelhantes.
Duas pessoas com mesmos talentos, porém uma que esteja bem engajada numa densa rede de contatos compatíveis com determinada área de atuação terá naturalmente resultados muito melhores do que a outra que tenha o mesmo talento, porém não tenha a rede de contatos. Obviamente se tiver a rede de contatos, mas não os talentos, também não adianta. É necessário analisar de forma imparcial, crítica e sensata, avaliando corretamente os próprios pontos fortes e fracos e em quais atividades pode tirar maior proveito de seus pontos fortes, sem que seus pontos fracos representem grandes empecilhos.
De forma resumida, é isso. Quando algum suposto guru sobre dropshipping ou sobre investimentos vende a ilusão de que o garçom do barzinho da esquina ficou rico com isso, portanto você também pode, em primeiro lugar é necessário investigar se é verdade essa história sobre o garçom e até mesmo sobre o tal guru, se ele próprio ganhou algo com dropshipping ou se ele apenas ganha vendendo cursos sobre isso. Em segundo lugar, supondo que seja verdade sobre o garçom, é importante não ser um idiota preconceituoso achando que por ele ser garçom você poderia fazer o mesmo que ele. Você precisa ter o bom-senso de enxergar quais são os atributos diferenciados que ele possui, que permitiram a ele obter sucesso.
Obviamente não é porque ele é garçom que ele teve sucesso, mas sim porque é inteligente, tem boa rede de contatos, tem amigos com grandes redes sociais que ajudaram na divulgação, é muito esforçado e disciplinado etc. O detalhe sobre ele ser garçom é o truque usado pelo suposto guru para enganar trouxas preconceituosos, que pensam “ah, se até um garçom conseguiu, eu também consigo”. Esse “pensamento” idiota precisa ser substituído pelo pensamento inteligente “ok, ele é garçom, mas quais são as características dele que permitiram que ele conseguisse bons resultados numa atividade em que a maioria não consegue?” e em seguida “eu possuo essas características que ele tem e que permitiram a ele alcançar esses resultados?”
Einstein, por exemplo, antes de ser reconhecido como o maior cientista vivo e um dos maiores da história, foi um baixo funcionário num escritório de patentes e vivia com dificuldade para se manter. Obviamente não é porque ele era um funcionário subalterno que se tornou o maior cientista do mundo. O que o tornou o maior cientista do mundo foi uma combinação de talento e dedicação.
Isso não significa que você precisa ter o mesmo talento de Einstein. Com talento não tão grande, mas com muita dedicação, poderá certamente obter resultados muito melhores do que se não se dedicasse. Além disso, é importante identificar corretamente em quais atividades seus talentos são mais úteis e mais promissores. Algumas pessoas possuem múltiplos talentos, que lhes permite escolher entre muitas áreas diferentes, e nesses casos é necessário avaliar também qual atividade lhe proporciona maior satisfação pessoal. Em alguns casos, a pessoa pode alcançar um sucesso extraordinário, mas não ser feliz. Geralmente é melhor ter um sucesso menor acompanhado de felicidade.
Alekhine, por exemplo, foi campeão mundial de Xadrez, mas numa carta para um amigo se lamentou por não ter sido um escritor ou cientista. Provavelmente ele nunca teria sido um escritor tão bom e tão reconhecido quanto ele foi como jogador de Xadrez, mas talvez ele se sentisse mais realizado como escritor e tendo o Xadrez como hobby.
Carlsen era jogador de Futebol e de Xadrez, e acabou escolhendo o Xadrez porque seu talento para o Xadrez era muito maior, mas nem sempre a escolha da atividade para a qual a pessoa possui maior talento é a melhor escolha. É muito importante o autoconhecimento, a autocrítica realista e imparcial, para compreender os próprios talentos, as próprias limitações, os desejos e sonhos e, em seguida, tomar as decisões mais certas. Também é necessário coragem para executar as decisões, e isso muitas vezes não é tão fácil.
Há muitas histórias sobre cantores, atletas, pessoas que tiveram a coragem de escolher caminhos incomuns e seguir seus sonhos, e como recompensa pela coragem, obtiveram um sucesso fora do comum. Imitar o que todos fazem é o caminho para a mediocridade. Imitar o que bilionários fazem pode ser um caminho sensato se você tiver atributos semelhantes para alcançar resultados semelhantes. Descobrir e compreender os próprios talentos e fazer escolhas compatíveis é o caminho mais promissor. Pensar de forma independente e lógica leva aos melhores resultados.
Quando a pessoa escolhe uma atividade típica, como ser médico, engenheiro, advogado, administrador, essas escolhas têm baixo risco de “falhar”, mas também há baixa probabilidade de conseguir um sucesso estrondoso. Para ter um sucesso excepcional é necessário fazer escolhas incomuns e certeiras, é necessário enxergar o que poucos enxergam e fazer as escolhas que a maioria não é capaz de reconhecer como sendo as melhores. Se você se limitar e imitar a maioria, não vai chegar a um lugar muito diferente de onde chega à maioria. Para ir mais longe e chegar mais alto, é imprescindível adotar uma postura arrojada e sensata. Isso vale para tudo na vida.
Em 2005, enquanto eu participava de um projeto de assistência às vítimas do tsunami na Indonésia, que havia assolado aquele país em dezembro do ano anterior, conheci Emerson P., que era vice-presidente do Merrill Lynch, um dos maiores bancos do mundo, e algum tempo depois ele passou a ser também vice-presidente do Hottinger Co., que era um braço do Merrill Lynch para clientes com aplicações acima de 100 milhões de dólares.
Ele se interessou em se associar em Sigma Society, mas não foi aprovado, ele sugeriu a possibilidade de que eu o convidasse em caráter extraordinário, mas fui indelicado e não o atendi. Mantivemos contato desde então e em 2007 ele veio ao Brasil como representante de um cliente de seu banco para fazer uma proposta de compra da Varig, e aproveitamos a visita dele ao Brasil para fazer uma reunião sobre a possibilidade de usar meus sistemas de investimentos no Merrill Lynch.
Naquela época ainda não havia o Saturno V, mas já havia os primeiros ancestrais do Saturno V, que geravam resultados superiores a quase todos os investimentos existentes, exceto o fundo Medallion, de James Simons. As negociações fluíram muito bem, até o ponto em que ele perguntou qual era o máximo drawdown do meu sistema, e respondi que era cerca de 38%. Nesse ponto ele fez uma pausa longa e disse que então não daria certo, porque os clientes do banco não aceitavam mais que 7% de máximo drawdown.
Qualquer pessoa que conheça bem o Mercado Financeiro sabe que ele estava equivocado, sabe que 38% de máximo drawdown histórico é um risco muito baixo, menos que a metade de Buy & Hold, e obviamente ele não poderia ter fundos que tivessem 7% de máximo drawdown, a não ser que operassem “desalavancados”, com performance abaixo da taxa de juros e da inflação, ou se estivessem de algum modo maquiando os riscos reais, e em algum momento a verdade acabaria aparecendo com efeitos desastrosos.
Basta olhar o histórico de longo prazo (acima de 20 anos) do IBOV, do DJI, do CAC ou do índice de qualquer país, ou de qualquer ação de qualquer país, para constatar que todas elas apresentam vários drawdowns maiores que 50%, alguns maiores que 60% e os mais graves chegam a mais de 90%. Só os melhores fundos do mundo conseguem drawdown abaixo de 50% em períodos longos. Na crise de 2000, por exemplo, todas as ações de alta liquidez caíram mais de 50% e várias delas caíram mais de 60%, assim como nas crises de 1988, 1973, 1966, 1937 e bem pior ainda em 1929.
O comentário dele foi tão sem sentido que fiquei na dúvida se eu deveria tentar explicar que a visão dele era muito destoante da realidade, ou se eu deveria simplesmente mudar de assunto, porque se ele trabalhava nisso há anos e mesmo assim ele não compreendia que não é possível ter 7% de máximo drawdown em renda variável, não é numa conversa de duas horas que eu conseguiria corrigir essa idiossincrasia. Decidi fazer uma breve tentativa de explicar, mas a reação dele deixou muito claro que ele não teria a menor chance de compreender e não valeria a pena prosseguir. Então mudei de assunto.
Em 2008 o banco no qual ele trabalhava faliu, com vários fundos do banco perdendo mais de 90% e o próprio banco desabou na bolsa com mais de 81% de prejuízo. Ironicamente, se ele tivesse fechado negócio comigo e usado meu sistema, o banco teria LUCRADO mais de +74% durante a crise de 2008, o que teria sido muito interessante tanto para ele quanto para mim, quanto para o banco, quanto para os clientes do banco.
O Emerson é uma excelente pessoa, além do projeto na Indonésia, atuamos juntos nos projetos de auxílio às vítimas dos desabamentos em Santa Catarina e em diversos outros, mas ele repete sempre que não entende nada de Matemática, e isso o coloca numa condição muito vulnerável quando se trata de tomar decisões sobre investimentos.
No caso dele, foi um erro de julgamento que causou um grande desastre financeiro, que poderia ter sido evitado. Mas há outras situações nas quais a pessoa consegue analisar corretamente a situação e tomar a decisão certa, porém não tem coragem para agir.
Um dos casos mais trágicos foi protagonizado por André F., que estava interessado em usar o Saturno V no fundo private de sua família, com cerca de 370 milhões de reais. O fundo havia sido aberto recentemente e ainda não havia realizado nenhuma operação. Iniciamos negociações e minha proposta consistia em duas alternativas:
A. Ele compraria uma licença “normal” do Saturno V, com alguns detalhes personalizados e redução no valor.
B. Ele escolheria o melhor fundo que ele conhecia como benchmark e eu ficaria com 90% do que superasse a performance desse fundo, com marcas d’água cumulativas para assegurar que ele permanecesse sempre acima do outro fundo a longo prazo.
Ambas as alternativas eram muito vantajosas para ele, assim como eram muito interessantes para mim. Na alternativa B ele ganharia mais do que no melhor fundo que ele conhecia, é equivalente a uma empresa oferecer 10% de desconto sobre o produto mais barato que você encontrar na concorrência, não há como perder nisso. Claro que havia riscos, mas em qualquer outro fundo também haveria, e nos outros fundos seria um risco maior com rentabilidade menor.
A alternativa A seria ainda mais lucrativa para ele, e foi a escolha que ele fez. Acertamos os detalhes, foi redigido o contrato, depois ele mudou de ideia e optou por contratar um ex-gestor do Goldman Sachs por um valor bem menor do que o preço que ele pagaria na licença. É um dos mais tristes casos nos quais o barato saiu muito caro...
De agosto de 2010 para cá (até março de 2024), o Saturno V tem acumulado 1962,78% de lucro (medido em dólares, cerca de 5600% em reais), enquanto o gestor que ele contratou começou ganhando 11% no primeiro ano, depois iniciou uma série de perdas e, na tentativa de recuperar rapidamente as perdas, foi aumentando posições negativas e acabou perdendo 88%, dilapidando gravemente o seu patrimônio e de sua família.
Há outros detalhes dessa história que não convém comentar, mas foi um dos resultados mais tristes. A conduta do gestor que provocou esse desastre é muito comum, há muitos casos similares, entre os quais o mais famoso talvez seja o do GWI, que atraiu bilhões de investimentos das manadas que seguem a maioria, sem analisar e sem compreender onde estão entrando, e em 2011 perdeu 273%.
https://www.estadao.com.br/economia/fundo-gwi-e-fechado-apos-perda-de-273-imp-/
Para ser justo na análise, é necessário avaliar que não foi o gestor sozinho que provocou isso. Ele teve pelo menos 50% de responsabilidade, já que ele fez a escolha e entregou seu patrimônio nas mãos desse gestor.
No caso do Emerson, foi um erro de decisão por falta de compreensão. No caso do André, ele tomou a decisão certa, mas ficou com medo de agir e, atordoado por esse medo, acabou mudando sua decisão para uma das piores escolhas possíveis.
O que distingue os maiores empreendedores e maiores investidores dos medianos pode ser resumido em 2 características básicas: inteligência e coragem. A inteligência permite identificar as melhores oportunidades e fazer as melhores escolhas, enquanto a coragem é necessária para colocar em prática as melhores escolhas. Tomar a decisão certa, mas não executá-la, além da frustração resultante do resultado monetário em si, também produz um terrível sentimento de culpa e de incompetência, por ter resolvido a parte difícil do problema de decidir, mas não ter tido coragem de agir.
Há vários ensinamentos importantes a serem extraídos desse artigo:
1. Não tente imitar um bilionário na expectativa de obter resultados semelhantes. Em vez disso, compreenda bem seus próprios talentos e como tirar proveito deles.
2. Não siga a maioria nem imite a maioria. Analise e compreenda o mundo, compreenda as pessoas e os fatos, e tome as decisões mais inteligentes, independentemente do que dizem ou fazem as massas. No mundo dos investimentos, quando muita gente está fazendo a mesma coisa, quase sempre é a coisa errada e conduz a resultados indesejáveis. As escolhas certas são difíceis e alcançadas por poucos.
3. Analise muito bem, com racionalidade, antes de tomar qualquer decisão, e quando chegar à melhor decisão, não tenha medo de agir, não deixe a oportunidade escapar. O medo é um de seus maiores inimigos e é responsável por muitos de seus futuros arrependimentos.
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