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Melhor livro dos últimos 20 anos

Há alguns meses, eu havia comprado dois livros do Feynman, os quais li parcialmente, e há algumas semanas estava pesquisando sobre livros de Steven Weinberg. Para minha surpresa, encontrei um relativamente recente (2015) e pela bagatela de R$ 20! Um livro de 494 páginas de nível muito alto pelo preço de uma revistinha de variedades. Encomendei, achando que fosse num sebo, com um pouco de receio de que chegasse faltando páginas ou muito sujo, mas era novo e lacrado! A boa e velha Lei da Oferta de da Procura... O título é “Para explicar o mundo”.
Por enquanto li poucos trechos, li o Prefácio, um pequeno trecho de Física grega e hoje pulei para um trecho sobre Kepler. O livro é excelente, um dos melhores livros de divulgação das últimas décadas, comparável aos excelentes livros de Poincaré, que talvez tenha sido um dos 10 maiores divulgadores da Ciência da História, ao lado de Galileu, Kepler, Feynman, Hawking e me sinto tentado a incluir Sagan nessa lista, mas seu livro “O mundo assombrado pelos demônios” deixa muito a desejar (seu livro anterior sobre o mesmo gênero, “O cérebro de Broca”, foi bem mais feliz, e sua obra prima “Cosmos” seria a principal razão de eu considerar a possibilidade de incluir Sagan nessa lista). Se fosse uma lista dos 20 maiores, então provavelmente incluiria Sagan e talvez até John Gribbin e Asimov.

Além de Weinberg ser uma pessoa muito agradável, é um dos maiores cientistas vivos, não apenas um ganhador do Nobel típico, como tantos outros, mas também um pensador original, rigoroso e profundo. Em 2002 enviei a ele algumas sugestões de revisão sobre um artigo que ele havia escrito sobre Física de Partículas, e ele se mostrou muito educado e receptivo, diferentemente de quando enviei sugestão de revisão de cerca de 200 erros num livro de um reconhecido físico brasileiro, que nem sequer me respondeu. Só para esclarecer, não acho que esse brasileiro foi indelicado e acho até compreensível sua postura. O anormal é a postura de Weinberg, muito mais ocupado e muito mais expressivo, mas ainda assim encontrou tempo para responder a uma mensagem escrita em inglês ruim.

Weinberg apresenta a História da Ciência com um nível de rigor e profundidade bastante raros, citando vários detalhes curiosos e importantes que a maioria dos autores omite ou apresenta de forma incorreta. Ele começa esclarecendo que não é um historiador, mas ao longo do livro se pode constatar um elevado nível de rigor historiográfico e se pode deduzir que ele fez várias pesquisas em fontes primárias.

Hawking comenta que em seu livro “Uma breve história do tempo” que gostaria de ter incluído mais fórmulas, mas foi pressionado por seus editores a não fazer isso, sob a “ameaça” de que o número de exemplares vendidos seria inversamente proporcional ao número de fórmulas. Além disso, encheram de imagens em “O universo numa casca de noz”. Acho compreensível essa quantidade de ilustrações, já que na época sua doença já se encontrava em estágio avançado, de modo que para escrever cada palavra era muito trabalhoso. Só achei triste (na verdade, tragicômico) que o áudio book dessa obra, lido numa instituição para cegos, começa com um trecho dizendo que o livro contém lindas imagens.

Em situação análoga, Weinberg não cede à pressão dos editores para reduzir ao máximo o número de fórmulas em sua obra prima “Os três primeiros minutos”, e coloca todas que considera necessárias para proporcionar uma compreensão razoavelmente correta dos aspectos conceituais e quantitativos dos fenômenos analisados. Em “Para explicar o mundo” Weinberg não apresenta tantas fórmulas, e as poucas que apresenta são bastante curtas, possivelmente influenciado pelos editores, mas isso de modo algum prejudica a qualidade do trabalho.

Para todos os interessados em Astronomia, Astrofísica, Física e Cosmologia, é um livro muitíssimo recomendado, talvez o melhor escrito nos últimos 20 anos, ou pelo menos um dos 10 melhores.

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