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27 de junho de 2021

UMA ANÁLISE DO IMPACTO DA PANDEMIA SOBRE O MERCADO FINANCEIRO

por Hindemburg Melão Jr.

Embora o impacto da pandemia sobre o Mercado Financeiro seja um problema relativamente pequeno, se comparado às mortes provocadas, o efeito sobre a Educação e sobre a vida social das pessoas, os efeitos sobre a Economia e sobre o Mercado Acionário também não podem ser negligenciados. Aliás, foram profundamente traumáticos e deixarão sequelas que serão lembradas durante décadas ou mesmo séculos. Neste artigo, apresento estudos que fiz recentemente sobre algumas propriedades do Mercado de Capitais que foram alteradas durante a pandemia, e analiso de que maneira estas alterações afetam as estratégias de investimentos, em particular as estratégias utilizadas pelo Saturno V. Os resultados mostraram que o impacto é maior do que se poderia pensar, superando as crises de 2000, 2008 e 2010, afetando tanto estratégias quantitativas quanto fundamentalistas. Alguns dos fatos constatados eram previsíveis, mas os valores numéricos não eram conhecidos. O outro fato era uma hipótese provável, mas que não havia sido corroborada empiricamente. O fato previsível é que os tamanhos médios dos candles curtos estão diminuindo ao longo dos últimos 15 anos. Não há indícios claros de que estejam diminuindo também antes de 2005, conforme podemos observar no gráfico a seguir, com a média anual dos tamanhos (high-low) dos candles de 1 minuto de EURUSD medidos em pipets (1 pip = 10 pipets). ​ A Tamara sugeriu que eu escrevesse uma breve explicação sobre o que são candles, porque essa palavra aparece muitas vezes nesse texto e as primeiras respostas do Google não são muito boas. Por isso, embora boa parte dos leitores provavelmente já saiba o que são candles no jargão de investimentos, achei a recomendação dela apropriada. ​ Um candle é um elemento gráfico que proporciona um pouco mais de informações que um gráfico de linhas, já que o gráfico de linhas geralmente une pontos (de fechamento do dia, por exemplo), enquanto o candle também informa as cotações de abertura, máximo e mínimo de cada “ponto”. ​



Um candle proporciona um resumo visual de todas as cotações contidas num determinado período. Um pode ser positivo, negativo ou neutro. As cores geralmente são verde e vermelho, mas podem ser representados também como azuis e brancos, entre outras possibilidades. Um candle pode representar praticamente qualquer intervalo de tempo, mas os mais usuais são 1 dia, 1 hora, 15 minutos e 1 minuto. Se um candle diário é verde, já sabemos que naquele dia a cotação de fechamento foi maior que a de abertura, o comprimento do corpo do candle mostra a diferença entre as cotações de abertura e fechamento naquele dia, enquanto o pavio mostra a diferença entre as cotações máxima e mínima naquele dia. Quando o máximo coincide com a abertura ou com o fechamento, a vela fica sem pavio. Quando a abertura coincide com o fechamento, o corpo do candle fica achatado verticalmente formando uma linha horizontal. Se o máximo coincidir com o mínimo (se não houve operação ou se todas as operações ocorreram ao mesmo preço), então todo o candle fica achatado formando um traço horizontal. Na maioria das vezes, a abertura de um período coincide com o fechamento do período anterior, por isso o registro das informações sobre abertura e fechamento acaba sendo redundante na maior parte das vezes. Contudo, há casos nos quais ocorrem càdlàgs (no Mercado Financeiro se costuma utilizar o termo “gap”) que produzem grandes diferenças entre a abertura de um período e o fechamento do período anterior, por isso convém não descartar a informação sobre cotação de abertura (ou de fechamento). Infelizmente a pessoa que inventou esta forma de representação gráfica cometeu dois erros primários e graves, que comprometem a qualidade dos registros:

  1. Os candles não informam se o máximo ocorreu antes ou depois do mínimo. Essa informação seria crucial para modelagens de boa qualidade. Na ausência dela, o melhor que se pode fazer é inferir estatisticamente a probabilidade de que o máximo tenha acontecido antes do mínimo ou o contrário. A informação sobre a ordem poderia ser indicada por um pequeno traço em diagonal dentro do corpo do candle. Se o traço subisse da direita para a esquerda, indicaria que o mínimo ocorreu antes do máximo, caso contrário seria o oposto.


  1. Além de abertura, fechamento, máximo e mínimo, seria importante que fosse registrado um tick extra que ocorre antes do máximo ou do mínimo, indicando qual foi o mínimo antes do máximo ou o máximo antes do mínimo. Essa informação é extremamente útil para saber se um stop foi acionado naquele candle A ausência dessa informação prejudica a qualidade das modelagens em backtests. Poderia ser incluído também um pré-extra, dobrando, em média, a sensibilidade na determinação da posição correta dos stops. A informação sobre este tick extra poderia ser uma marca horizontal.

Poderiam ser adotadas outras soluções para registrar estas informações, sem ocupar mais espaço que um candle tradicional. O formato em si não seria tão relevante, desde que estas informações fossem preservadas. Sem elas, os candles com dados históricos sobre S&P500 desde o ano 1871, por exemplo, perderam dados importantes que não podem ser reconstituídos. No caso deste artigo, trataremos principalmente de candles de EURUSD diários desde 1971 ou desde 1986, e candles intradiários (de 1, 15 minutos e 4 horas) desde 1986. Convém lembrar que antes de 1999 não existia Euro, portanto neste período foi utilizado ECUUSD (ECU = European Currency Unit). E antes de 1979 também não havia ECU, por isso de 1971 até 1979 geralmente se utiliza o DKKUSD (ou o inverso de USDDKK, onde DKK é Coroa Dinamarquesa), já que a correlação entre DKKUSD e EURUSD é cerca de 0,968 desde que o Euro começou a ser negociado. Por isso se pode assumir que provavelmente o DKK também representava a média de toda a Europa antes disso. Não há uma padronização sobre como e quais dados devem ser utilizados nestas “emendas”, mas esta é uma das melhores. Olsen Data, por exemplo, utiliza Marco Alemão antes de 1999, mas a correlação entre DKKUSD e EURUSD é mais forte. Antes de 1970 não existia Forex, por isso os registros de cotações são menos sistemáticos e menos acurados. ​



Quando se considera os candles de 1 dia ou de 4 horas, a correlação entre o ano e o tamanho médio no mesmo ano é 0,28 para candles de 1 dia e 0,31 para candles de 4 horas, enquanto a correlação para candles de 1 minuto é 0,73, considerando o período de 1986 a 2021. Mas quando se considera exclusivamente a evolução de 2005 em diante, também se observa uma nítida redução nos tamanhos dos candles de 1 dia e de 4 horas, conforme podemos observar nos gráficos a seguir: ​



Além da diferença na inclinação da reta de regressão, também podemos observar uma nítida diferença entre 2000 e 2007 na evolução dos tamanhos dos candles para diferentes time frames. Nos casos de candles de 1 minuto, o tamanho médio anual fica oscilando entre 1986 e 2000. Daí até 2005, o tamanho aumenta gradualmente, atingindo o máximo em 2005. Depois diminui rapidamente até 2007, aumenta abruptamente em 2008 e desde então começam a diminuir gradualmente. ​ O padrão observado nos candles de 1 dia e 4 horas é bem diferente: ficam oscilando até 2007, aumentam abruptamente em 2008 e começam a diminuir gradualmente. A partir de 2008, o comportamento é similar para candles de todos intervalos, desde 1 minuto até 1 dia. Mas entre 2000 e 2008 os comportamentos são muito diferentes. Quando o Mercado evolui “naturalmente”, sem intervenções de grandes bancos centrais nem de quarteis bancários, algumas propriedades observadas são comuns aos processos de Lévy e de Wiener, entre as quais uma das mais fundamentais é que que amplitude média das variações é diretamente proporcional à raiz quadrada do intervalo considerado. Portanto o tamanho médio de candles de 100 minutos deve ser 10 vezes o tamanho médio de candles de 1 minuto, se estes candles cobrirem mesmo período de um mesmo instrumento financeiro. A média dos tamanhos dos candles de 4 horas deve ser 2 vezes a média dos tamanhos dos candles de 1 hora, e assim por diante. Então a média anual nos tamanhos dos candles deveria preservar a proporção ao longo do tempo. Se a média dos candles de 1 minuto de determinado ano forem 2 vezes maior que a média dos candles de 1 minuto do ano anterior, então a média de todos os outros cadles também deveria ser aproximadamente 2 vezes maior que a média dos mesmos candles no ano anterior, desde que cada amostra seja suficientemente numerosa (250 dias no ano geralmente é suficiente). Mas no Mercado Financeiro nem sempre se verifica a preservação desta propriedade. Neste caso específico, a média anual dos candles de 1 minuto cresceu consistentemente de 2000 a 2005, por isso seria esperado que as médias dos candles de 5 minutos, 15 minutos, 60 minutos, 240 minutos e 1440 minutos também crescessem numa proporção semelhante. Mas o que se observa é muito diferente, sinalizando que há provavelmente erros nos registros dos candles nesse período, em que os candles de 1 minuto são muito maiores do que seria esperado com base nos tamanhos dos candles de 1 dia do mesmo período. De acordo com os registros, entre 2003 e 2005 os candles de 1 minuto foram 2,1 vezes maiores que o esperado com base no tamanho dos candles de 1 dia. Embora seja um problema evidente e grave de registro de dados, isso é muito comum na grande maioria das séries históricas, porque as corretoras de Forex que disponibilizam estes dados, frequentemente os adulteram, esticando os candles para incentivar os clientes a adotarem estratégias de scalping, que funcionariam se os candles de 1 minuto fossem muito maiores que os reais, assim os clientes executam maior número de operações e pagam mais taxas de corretagens. Mesmo com as diversas filtragens que fazemos para atenuar este efeito, e com a seleção das bases de dados de referência em fontes mais idôneas, é difícil eliminar por completo este viés, por isso parte dos dados mais antigos pode estar contaminada com esse efeito, e a inconsistência apontada acima é um dos sintomas disso. Conhecendo a média dos tamanhos dos candles de 1 dia, podemos calcular qual deveria ser a média dos tamanhos dos candles de 1 minuto e tentar subtrair a provável distorção. Esse é um dos tratamentos que será dado a esta base de dados, entre outros que serão citados num próximo artigo. Por isso a evolução no tamanho da média anual dos candles de 1 dia acaba sendo uma medida mais confiável do que a média anual dos candles de 1 minuto. Para outras finalidades, o estudo dos candles de 1 minuto pode ser mais informativo por possibilitar enxergar as variações ao longo de intervalões relativamente curtos. A oscilação nos tamanhos dos candles em função do horário, por exemplo. Embora os candles estejam esticados, todos estão esticados aproximadamente na mesma proporção, por isso se pode comparar a variação dentro de um dia. O problema ocorre quando se considera períodos de vários anos, ao longo dos quais os estiramentos variam, produzindo o efeito constatado acima, em que a relação de tamanho entre os candles de 1 dia e 1 minuto era cerca de 18 nos anos 2003, 2004, 2005, enquanto o esperado seria cerca de 38. ​ Além dessa distorção, também podemos filtrar os dados utilizando o algoritmo RanSaC, que elimina os principais outliers, resultando no seguinte gráfico:



Agora fica mais facilmente visível a reta de regressão que representa a redução nos tamanhos dos candles ao longo do tempo. Como os candles nunca poderão ter tamanhos negativos, não é conceitualmente adequado utilizar uma reta para regressão, porque se fosse assim, a partir do ano 2096 os candles teriam tamanhos menores que zero. Por isso uma modelagem mais realista pode utilizar uma regressão exponencial, representada pela linha pontilhada azul no gráfico a seguir: ​



Este parece ser um modelo adequado para descrever a variação no tamanho médio dos candles ao longo do tempo, prognosticar o tamanho futuro dos candles e ajustar a estratégia a esta variação. O Saturno V já se ajusta às variações sazonais que ocorrem ao longo do ano, ao longo da semana e ao longo do dia, bem como incorpora as perturbações recentes à medida que ocorrem. O Saturno V também se ajusta às variações cumulativas de longo prazo, e agora o valor utilizado para este parâmetro ficou mais acurado. Com esse refinamento, os prognósticos ficam um pouco mais eficientes. Os três gráficos a seguir mostram alguns exemplos de variações típicas nos tamanhos dos candles (pontos azuis) e dos spreads (pontos vermelhos), ao longo das 3 últimas semanas de 2021. No eixo x está representado o número de minutos transcorrido na semana e no eixo y está representado o tamanho individual de cada candle em pipets: ​




Podemos observar que as variações diárias são aproximadamente constantes e se repetem quase da mesma maneira todos os dias, bem como os surtos no spread ocorrem quase sempre nos mesmos momentos de cada dia. Isso varia de uma corretora para outra, e os picos máximos de cada semana também não ocorrem no mesmo dia da semana todas as vezes, embora haja uma concentração nas quintas e sextas-feiras. Essas variações diárias e semanais são relativamente bem conhecidas e bem modeladas, mas a variação cumulativa de longo prazo é menos conhecida, inclusive devido às grandes flutuações aleatórias. Embora essa variação cumulativa seja pequena, permite um refinamento importante quando se faz backtests em históricos de várias décadas, além de possibilitar aprimorar as projeções de como devem ser estes valores no futuro, servindo para ajustar com maior exatidão praticamente todos os parâmetros da estratégia. Essa diminuição progressiva, de longo prazo, no tamanho médio dos candles, faz com que os movimentos no Mercado se tornem, em média, mais curtos, e como as oscilações de curto prazo são maiores que a redução média anual, o efeito passa facilmente despercebido. A cada ano, o candle típico de 1 minuto diminui, em média, cerca de 0,026 pip, o que é muito difícil de notar, porque em poucos minutos a variação pode ser de vários pips. Mas ao longo de algumas décadas, essa variação cumulativa produz efeitos significativos, especialmente nas otimizações, que incluem dados antigos e recentes juntos, e para que fiquem numa mesma escala, estes detalhes precisam ser bem ajustados. Em breve pretendo escrever um artigo abordando este tema. Depois de introduzir o tema sobre a variação nos tamanhos dos candles, podemos tratar do assunto principal, que nos ajuda a compreender como o Mercado reagiu à pandemia nos últimos 18 meses. Em artigos anteriores, vimos que ocorreram algumas anomalias em maço e abril de 2020, e vimos alguns dados estatísticos sobre a evolução da pandemia neste mesmo período. Mas não era fácil detectar diferenças visuais no comportamento das cotações que pudessem ser associadas aos resultados. Com este estudo podemos visualizar muito facilmente o problema, bem como podemos comparar cenários anteriores e posteriores, e estimar como serão os cenários futuros. Primeiro vejamos o gráfico de um período “normal”, antes da pandemia. O gráfico seguir mostra a variação no tamanho “individual” dos candles de 1 minuto no ano de 2019. Na verdade, não são individuais porque isso exigiria uma imagem com cerca de 300 Megapixels (363.000 x 800). Mas além dos gráficos anuais, foram geradas imagens diárias, semanais e mensais, nas quais é possível visualizar mais detalhes, quando necessário. No eixo x estão os minutos ao longo do ano (sem fins de semana, com média de 252 dias por ano), cada unidade representa 1 minuto, portanto a cada 1440 unidades temos 1 dia, a cada 5 dias temos uma semana, a cada 362.880 unidades temos 1 ano. No eixo y estão os tamanhos dos candles de 1 minuto. Clique na imagem para baixá-la em alta resolução (7680x3840):



Esse é o comportamento observado em praticamente todos os anos anteriores. Seguem mais alguns exemplos de 2018 e 2017: ​



Sócios e clientes do Saturno V que tiverem interesse, podem solicitar link para baixar todos os gráficos anuais de tamanhos de candles, spreads e candles+spreads desde 2009, todos os mensais, semanais e diários desde 2009 e histogramas com as distribuições de tamanhos de candles diários, 4 horas, 1 hora, 15 minutos, 5 minutos e 1 minuto desde 1986. No total são 4,26 Gb. Agora vejamos como foi em 2020: ​



Pode-se observar um evento completamente fora do normal em março e abril, com rápido aumento, violentas flutuações, seguidas por um rápido declínio, retornando a um patamar um pouco acima do que era antes do evento, e permanecendo com anomalias maiores e mais frequentes do que antes. Com rápido crescimento no tamanho médio dos candles, seguido por rápido decrescimento, e o Saturno V não conseguiu acompanhar essas mudanças a tempo. Pior do que isso: quando o Saturno V se ajustou ao cenário com os candles maiores, os candles ficaram menores em seguida, provocando a concentração de perdas nestes dois meses. ​ É interessante comparar o gráfico acima com este outro (abaixo) que representa a evolução da pandemia. O pico da primeira onda teve um impacto muito maior sobre o Mercado do que o segundo pico, embora o segundo pico tivesse sido maior. A razão disso pode ser porque o Mercado Financeiro não refletiu com fidelidade os efeitos da pandemia, mas sim uma combinação dos efeitos reais da somados ao pânico e à comoção generalizada. Quando ocorreu a segunda onda, embora os efeitos intrínsecos da pandemia tenham sido ainda piores, a situação de pânico já havia passado, as pessoas já estavam mais “habituadas” e muitas já estavam retomando suas atividades. E se houver uma terceira onda, ela deve ter um impacto ainda menor sobre o Mercado. ​



No final de 2020 e início de 2021, a situação já começou a se normalizar com as vacinações e a retomada das atividades comerciais, industrias etc., quase como eram antes. Alguns setores ainda não se normalizaram, outros talvez nunca voltem a ser como antes, mas mesmo que não retorne ao cenário anterior, desde que seja um cenário aproximadamente estável, a tendência geral é de que as performances do Saturno V voltem ao normal. ​ Quando olhamos para os primeiros 6 meses de 2021 (abaixo), o que podemos observar é um comportamento mais uniforme, sem as alterações abruptas, de grande amplitude e de curta duração ocorridas ao longo de 2020. Embora os tamanhos dos candles sejam apenas uma das propriedades relevantes para diagnóstico geral do Mercado, esta é a propriedade que estabelece a escala com qual todas as métricas precisam se ajustar. Há várias maneiras de se medir a variação na volatilidade, além dos tamanhos dos candles, mas para esta finalidade o tamanho dos candles é o ideal, porque apresenta maior estabilidade ao longo do tempo em intervalos curtos, tem baixa sensibilidade a tendências (se comparado ao desvio-padrão, por exemplo, ou ao biweight de Tukey-scale), o cálculo é mais rápido (considerando que levou 11 horas para gerar estes gráficos, a velocidade nos cálculos é um fator relevante), e reflete com maior fidelidade as variações sazonais da heteroscedasticidade.



Em nenhum momento da história registrada do Forex ocorreu uma anomalia tão exacerbada como a de março-abril de 2020. Nem mesmo na tempestuosa crise do subprime de 2008, nem na crise da Grécia (com impacto sobre toda a Europa) em 2010, nem na gigantesca flutuação em EURCHF em janeiro de 2015, nada se compara ao impacto que teve o crescimento acelerado da pandemia nestes dois meses de 2020. Para visualizar mais detalhes, serão apresentados, a seguir, os tamanhos individuais dos candles de 15 minutos no ano de 2008, que por serem menos numerosos que os de 1 minuto, proporcionam uma visão quase individual: ​



Podemos notar um aumento no tamanho médio dos maiores candles em setembro e outubro, mas nem se compara às anomalias observadas em março e abril de 2020. Em 2008 foi um processo comparativamente mais gradual, dando tempo ao Saturno V para se adaptar à mudança. Embora as cotações tenham se movido muito rapidamente para baixo, a volatilidade (dependendo da métrica utilizada) cresceu a um ritmo mais moderado, inclusive 2008 é um ano promissor para a maioria das versões do Saturno V, que lucram mais do que a média nesse ano, devido ao aumento na volatilidade. Agora vejamos os tamanhos dos candles individuais de 15 minutos em 2020: ​


Por fim, vejamos os tamanhos individuais dos candles de 15 minutos nos primeiros 6 meses de 2021, onde temos uma situação comparativamente muito mais tranquila e homogênea:



Sinalizando que estamos caminhando para uma normalização. A distribuição dos candles de 15 minutos é particularmente importante no nosso caso, por ser este o time frame no qual o Saturno V opera. E há basicamente dois pontos principais a serem considerados: a homogeneidade e os tamanhos máximos. A homogeneidade é importante porque o Saturno V utiliza cenários recentes para estimar as propriedades esperadas no futuro próximo. Se ocorrem variações, o Saturno V se adapta, desde que sejam suficientemente estáveis e duradouras. Se forem excessivamente rápidas, não haverá tempo suficiente para que o Saturno V reúna os dados necessários para se adaptar, e quando ele tiver estes dados, o cenário já estará diferente. Por isso o ideal é que não haja variações nestas propriedades, mas se houver, é desejável que sejam graduais e suficientemente lentas, como ocorreu em 2000, 2008, 2010 etc. Também não há muito problema se houver variações punctuais abruptas, como nas eleições dos EUA, o brexit ou a tempestade em EURCHF de 15/1/2015, porque esse tipo de evento provoca apenas uma perda de 4% a 7%, mas logo em seguida tudo retorna ao normal. O problema só assume proporções preocupantes quando ocorrem eventos caóticos, que aumentam a entropia e a anisotropia durante longos períodos, tal como ocorreu no final de 2019, se agravou em março de 2020, atenuou em maio de 2020, mas persistiu até o início de 2021.

De 2021 em diante, o que temos observado é um cenário bastante semelhante a qualquer outro antes de 2020, sem grandes anomalias e com todas as propriedades gerais em conformidade com os critérios que o Saturno V utiliza. Além disso, a versão T-124d é mais robusta que as outras e tem se mostrado mais apropriada para interpretar o comportamento do Mercado durante o período da pandemia, bem como em qualquer outro período. Além dos tamanhos dos candles, também foram realizados estudos sobre os tamanhos dos spreads, que são igualmente importantes, já que quanto menores os spreads, mais fácil fica operar em candles mais curtos. E o que se observa é que os spreads também estão diminuindo a um ritmo fortemente correlacionado com o da redução dos candles. Entre setembro de 2009 e junho de 2021, o coeficiente de correlação entre os tamanhos médios dos candles de 1 minuto e dos spreads médios a cada minuto, considerando as médias anuais, foi 0,88. É importante deixar claro que isso não é o mesmo que a correlação entre os spreads e candles, que fica perto de 0. Para que se possa “observar” o efeito é necessário agrupar todos os candles de 1 minuto em intervalos de 1 ano e considerar a média de 1 ano, para que haja suficiente estabilidade e se verifique a correlação entre estas variáveis. Infelizmente os dados anteriores a 2019 geralmente não incluem os spreads reais do Mercado. Algumas corretoras informam um spread acrescido de um mark-up, outras mostram um spread fixo, usado exclusivamente naquela corretora, mas que não reflete os spreads reais. Inclusive a Dukascop, que disponibiliza a melhor série histórica tick-by-tick desde 2003, não fornece dados corretos sobre os spreads antes de 2009. Apesar destas limitações, pudemos usar os tamanhos dos candles anteriores a 2009 para estimar os tamanhos dos spreads, já que a correlação entre eles é 0,88. Com isso combinado aos dados sobre as flutuações dos spreads em função do horário e do dia da semana, pudemos preencher os dados de spreads desde 1986 (na verdade, desde 1971), lembrando que estes dados (anteriores a 2009) não são os spreads reais, mas são uma estimativa muito precisa, acurada e muito útil, pois é muito melhor ter uma estimativa aproximada do spread verdadeiro do que trabalhar com um spread fixo completamente destoante da realidade na maior parte do tempo, ou usar os spreads falsos fornecidos nas bases de dados das corretoras. Com isso, temos mais um aprimoramento em nossa base de dados, que contribui para ampliar e refinar os resultados de nossas otimizações e backtests. A versão T-124d1 do Saturno V não traz grandes aprimoramentos; basicamente refina um parâmetro que permite se adaptar à variação de longo prazo nos tamanhos dos spreads e dos candles, mas a combinação desta nova versão com a nova edição de nossa base de dados, acompanhadas da normalização da pandemia, representam um conjunto muito favorável de fatores que sugerem perspectivas bastante otimistas. A última operação realizada pelo Saturno V, em 15/6/2021, que chegou a mais de 18% de lucro e fechou com +14,59% de lucro, reforça essas perspectivas. As séries históricas de cotações não servem apenas para rodar backtests e otimizações. São também extremamente importantes para compreender a evolução das propriedades do Mercado ao longo do tempo, identificar focos de anomalias e outras características que ajudam no desenvolvimento e no aprimoramento das estratégias operacionais. Um dos motivos pelos quais a esmagadora maioria dos sistemas automáticos não funciona é porque as pessoas ficam testando aleatoriamente diferentes indicadores e diferentes combinações destes indicadores, sem qualquer critério racional baseado nas propriedades estatísticas do Mercado, com a esperança de que uma configuração obtida por pura e simples tentativa e erro acabe dando certo por sorte. Isso é como tentar reescrever a obra de Dostoiévski sorteando letras ao acaso. Para um número infinito de combinações de letras, seria possível, talvez, reescrever todas obras de todos os escritores. Mas como cada combinação exige algum tempo, seria necessário um tempo também infinito. Por isso o único caminho promissor consiste em primeiramente investigar as propriedades do Mercado que emergem mediante um estudo como este, para depois, a partir destes dados, planejar um modelo racional de se utilizar indicadores adequados e criar novos indicadores que sejam capazes de representar as propriedades que precisam ser modeladas. Nesse caso específico, felizmente não há necessidade de novas modelagens porque o cenário anterior à pandemia está voltando a se normalizar e desde o início de 2021 já está praticamente 90% semelhante ao que era antes do final de 2019. A pandemia gerou perdas e inseguranças, mas também trouxe aprendizado e fortalecimento, sob vários aspectos. O Saturno V é um sistema solidamente fundamentado em estratégias construídas com rigor matemático. A Estatística prevê que num jogo de dados pode acontecer de eventualmente uma pessoa que escolhe os números de 3, 4, 5 e 6 ganhe menos do que outra que escolhe os números 1 e 2, e essa anomalia pode continuar repetindo por alguns eventos consecutivos, mas a tendência a longo prazo é de que em algum momento a pessoa que escolhe os 4 números volte a ganhar na maioria das vezes. Eu mesmo cheguei a ficar inseguro durante os momentos mais difíceis, e esta insegurança me motivou a dedicar um tempo considerável na realização dos estudos cujo resumo é apresentado aqui, e os resultados destes me trouxeram muito mais tranquilidade e entendimento do que aconteceu e do que está acontecendo. Também considero o artigo “Yin-Yang”, escrito pelo amigo Leandro Nazzari, extremamente importante para auxiliar sobre como lidar com situações como esta. Recomendo fortemente esta leitura, não apenas para este caso específico sobre a pandemia e o Saturno V, mas para a vida de modo geral.

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