EINSTEIN ESTAVA CERTO? E QUEM MAIS?
Por Hindemburg Melão Jr

A recente publicação sobre a “primeira foto de um buraco-negro” citou várias vezes o nome de Einstein, e frequentemente citou de forma inadequada.
Decidi adicionar um apêndice ao artigo anterior https://www.saturnov.org/fotoburaconegro, com 4 uptades (em azul, para facilitar a leitura de quem já havia visto a versão anterior, e um dos updates foi justamente sobre as ostensivas e injustificadas citações de Einstein em qualquer coisa que seja testada. Também achei interessante escrever um artigo à parte, tratando exclusivamente disso. Quem tiveresse interesse em saber mais sobre os outros 3 updates no artigo anterior, há alguns pontos interessantes que foram desenvolvidos com maior profundidade e alguns pontos novos, que não estavam presentes na primeira versão.
A verdade é que a Teoria da Relatividade Geral é útil para deduzir algumas propriedades de objetos muito massivos e compactos, mas as teorias de muitos outros pesquisadores também tiveram papel crucial na determinação das propriedades desse e outros objetos de classes similares.
Além disso, é importante esclarecer que Einstein não achava possível a existência de buracos-negros, e há fortes evidências de que ele tinha razão. Os resultados observados indicam a existência de objetos massivos que reúnem várias propriedades atribuídas a buracos-negros, mas não há nenhuma evidência de que sejam de fato buracos-negros. Os resultados obtidos pelo LIGO também não corroboram a existência de buracos-negros, e nenhum outro experimento mostrou de forma conclusiva que tais objetos existem. O que acontece é que a interpretação ingênua da maioria dos pesquisadores é de que se os resultados observados são suficientemente semelhantes aos objetos teóricos previstos pela teoria, então tais objetos devem realmente existir. No entanto, existem objetos que não atendem os critérios necessários para que sejam classificados como buracos-negros, mas apresentam as mesmas propriedades previstas para buracos-negros. Seria necessário realizar experimentos que pudessem testar situações nas quais esses objetos pudessem produzir resultados experimentais diferentes daqueles previstos para buracos-negros, e só então se pode afirmar, com razoável segurança, que buracos-negros provavelmente existem.
Essa é uma parte da questão. Outra parte é que estão dizendo que as observações de buracos-negros corroboraram (ou pior, dizem que provam ou confirmam) as teoria de Einstein. Nenhum experimento é capaz de provar uma teoria. Pode, na melhor das hipóteses, corroborá-la.
Outro ponto é que os resultados obtidos mostram que Newton estava certo, Kelvin estava certo, Bohr estava certo, Gauss estava certo, Euclides estava certo, Boltzmann estava certo, Wien estava certo, Schwarzschild estava certo, Hilbert estava certo, Fizeau estava certo, Planck estava certo, Laplace estava certo, Russell estava certo, e mais alguns milhões de outros pesquisadores estavam certos. Porém as notícias costumam ser “Einstein estava certo” ou “Einstein estava errado” ou “novos resultados colocam teoria de Einstein em xeque” etc.
Quando um atleta olímpico faz o lançamento do martelo e a trajetória do martelo descreve um segmento de parábola, ninguém publica uma matéria dizendo “Galileu e Newton estavam certos”. Quando O’ Sullivan vence um jogo de Bilhar, ninguém diz que Newton estava certo. Quando se descobre um novo cometa cuja órbita tem a forma de elipse, a velocidade do cometa é tal que ele percorre áreas iguais em tempos iguais, e cujo período orbital medido em anos gaussianos é proporcional ao semi-eixo maior de sua órbita medido em unidades astronômicas elevado a 1,5, ninguém diz que Kepler estava certo.
Parece haver uma obsessão em dizer que Einstein estava certo, ou errado, para qualquer resultado experimental que se tenha nos campos da Física, Astrofísica ou Cosmologia. Isso soa muito mal sob diversos aspectos, tanto para quem escreve a matéria quanto para quem lê, porque fica-se com a impressão de que toda a Física dos últimos 100 anos gira em torno de Einstein, que os experimentos são realizados para verificar se Einstein tinha razão etc., quando na verdade as teorias de Einstein sobre Relatividade Restrita, Relatividade Geral, Efeito Fotoelétrico, Movimento Browniano já estão muito bem corroboradas, e não é a imagem obtida de um novo experimento cuja incerteza nas medidas é da mesma ordem de grandeza dos resultados que terá alguma utilidade ou fará alguma diferença na corroboração de alguma das teorias de Einstein.
Além de os resultados desse experimento não terem servido para corroborar as teorias de Einstein, ainda por cima usaram modelos baseados nas teorias de Einstein para construir a imagem que foi anunciada como se fosse uma fotografia. Ou seja, a confiabilidade na teoria é muito maior do que nos resultados desse experimento, logo não faria o menor sentido usar os resultados do experimento para corroborar a teoria.
Outro ponto negativo é que se transmite ao leigo à impressão de que Einstein era um “palpiteiro”, e que suas ideias até hoje não foram devidamente corroboradas, e toda a fama e prestígio que ele alcançou teria sido pela mera proposição de hipóteses. Seria importante deixar claro que desde 1919 se começou a reunir dados experimentais que se mostraram consistentes com o modelo de Einstein para campos gravitacionais e movimentos acelerados, e nas décadas seguintes houve uma grande variedade de outros testes, além dos eclipses solares, que corroboraram diversos aspectos de suas teorias. Provavelmente a eficiência dos GPS seja o melhor exemplo de uso cotidiano para enfatizar o sucesso de suas teorias. Se suas teorias não fossem boas representações da realidade, a acurácia dos GPS seria muito menor e não serviriam para quase nada.
Outro problema é que esse tipo de abordagem faz parecer que a finalidade dos cientistas é tentar fazer previsões sobre o futuro, e ganham estrelinhas quando acertam, causando a impressão de que astrólogos, tarólogos e pais de santo são como cientistas. Seria interessante tentar mostrar que, na verdade, um dos trabalhos dos cientistas (teóricos) não é prever o futuro, mas sim tentar explicar fenômenos já conhecidos que não se mostram consistentes com os modelos vigentes, e quando conseguem propor modelos capazes de explicar tudo que já se conhecia e também os detalhes que se mostravam inconsistentes, o passo seguinte é testar se o modelo também é capaz de descrever alguns fenômenos ainda não conhecidos. No caso de Einstein, seu modelo dava conta de explicar os resultados obtidos por Michelson e Morley, a precessão nos periélios de Marte e Mercúrio. Além disso, efeitos ainda não observados foram previstos com base em sua teoria, sendo a deflexão da luz ao passar pelas imediações de campos gravitacionais intensos uma das primeiras e mais importantes previsões, que o consagrou mundialmente quando as medições do envolvendo o eclipse de 1919, feitas em Sobral, corroboraram suas previsões. Além de criar modelos matemáticos para tentar explicar, de forma simplificada, usando funções com poucos parâmetros, mas capazes de descrever uma grande variedade de fenômenos, outra função dos cientistas (experimentais) consiste em criar experimentos engenhosos por meio dos quais se possa tentar falsear as teorias, construir os dispositivos necessários para levar a cabo esses experimentos, coligir os dados, utilizar ferramentas estatísticas adequadas para tratar esses dados e fazer inferências sobre os resultados de modo a verificar se os resultados obtidos foram consistentes com o modelo dentro de limites “tolerâncias”.
Outro ponto muito importante é que Einstein não desempenhou quase nenhum papel no caso desse estudo para tentar medir o perímetro interno do disco de acresção do objeto massivo na região central de M87, mas o nome de Einstein foi mais citado que os dos pesquisadores responsáveis pelo experimento. Claro que a importância da obra de Einstein é muito maior que a de todos os envolvidos nesse projeto somados, e mesmo dividindo os méritos de Einstein com Voigt, Poincaré, Lorentz, Minkowski, Schwarzschild, Hilbert e outros responsáveis pelo desenvolvimento da Teoria da Relatividade, ainda assim os méritos individuais de Einstein superam ao das equipes que trabalharam no presente estudo. Mas Einstein já recebeu seus louros, e agora seria o momento de reconhecer e valorizar o trabalho das equipes responsáveis pela construção dessa imagem, citando-os, descrevendo o papel que desempenharam, a importância que tiveram no trabalho etc. Não citar apenas a moça que fez uma parte operacional do trabalho, mas sim citar todos os integrantes das equipes envolvidas, com maior destaque àqueles que protagonizaram a pesquisa, na resolução dos problemas mais difíceis e nas eventuais inovações que foram necessárias para adaptar os princípios básicos da interferométrica a esse problema em particular, que é um caso não-trivial.
Na Idade Média, por volta do século VIII d.C., houve um famoso erudito chamado “Geber”. Antes da invenção dos tipos móveis, a publicação de livros era muito cara, por isso houve vários autores que usaram o pseudônimo Geber, inclusive alguns séculos após a morte de Geber, tentando se passar por ele para que conseguissem que seus trabalhos fossem publicados, e esse grupo de autores ficou conhecido como “Falso Geber”. Os verdadeiros nomes desses autores se perderam na história. Uma lástima que os nomes de alguns personagens importantes para o desenvolvimento da Ciência tenham se perdido por um motivo desses. Agora, em pleno século XXI, vivemos uma situação semelhante, em que Einstein continua sendo citado várias décadas após sua morte, em trabalhos nos quais ele não teve nenhum envolvimento, enquanto as pessoas que deveriam ser homenageadas, às quais deveriam ser atribuídos os méritos, ficam no obscurantismo.
Parabéns a:
Kazunori Akiyama
Antxon Alberdi
Rebecca Azulay
Anne-Kathrin Baczko
Mislav Baloković
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Silke Britzen
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Do-Young Byun
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Yuzhu Cui
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Vincent L. Fish
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Charles F. Gammie
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Mark Gurwell
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